A reabilitação tem sido, historicamente, uma área secundária para a maioria dos governos, designadamente para aqueles que pouco investem no setor da Saúde, o que se reflete em serviços pouco desenvolvidos. Quem o diz é a Organização Mundial da Saúde (OMS).Porém, num mundo cada vez mais envelhecido e com novas tendências de saúde, a expansão dos serviços de Medicina Física e de Reabilitação é uma realidade. E ainda bem que assim é.Enquanto médico fisiatra, e agora presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação (SPMFR,) não posso deixar de sublinhar a importância da consolidação desta estratégia. A Reabilitação tem de ser vista como prioridade de saúde pública e integrar as estratégias para garantir acessibilidade e qualidade nos cuidados de saúde em Portugal, sem esquecer o papel da sociedade civil, essencial na implementação dessas propostas.É isso que defendemos no Plano Nacional de Reabilitação, já entregue ao Ministério da Saúde.A estratégia nacional de organização dos cuidados de Reabilitação deve considerar medidas de desenvolvimento da estrutura assistencial, o que passa, necessariamente, pela constituição de equipas multiprofissionais de reabilitação com todas as valências nas várias tipologias de cuidados. Não menos relevante é a adequada transição e continuidade de cuidados, acompanhando as várias fases do processo de recuperação e, por outro lado, a orientação da intervenção segundo as melhores práticas clínicas e recomendações científicas internacionais.Sabemos, porém, que a nossa realidade tem assimetrias de organização e de recursos técnicos e humanos, pelo que o plano deve considerar as especificidades regionais e contar com a participação de especialistas nas diferentes fases e problemáticas das consequências das doenças, que aliem o conhecimento e experiência clínica às guidelines técnico-científicas internacionais.A organização dos cuidados de Reabilitação é um processo dinâmico e deve adaptar-se às alterações do modelo organizativo do sistema de saúde. Neste aspeto, a criação das Unidades Locais de Saúde (ULS) representa um momento para redefinir a organização da Reabilitação nos diferentes níveis de cuidados, incluindo os Cuidados de Saúde Hospitalares, onde se incluem os Serviços de Medicina Física e de Reabilitação, os Centros Especializados de Reabilitação, a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e os Cuidados de Saúde Primários de forma faseada, integrada e articulada.A sociedade civil pode ter um papel crucial no desenvolvimento das condições para a implementação deste plano, contribuindo ativamente para que ele seja mais equitativo, acessível e sustentável. Para termos sucesso nesta estratégia temos de implementar mudanças na sociedade, que começam com o reconhecimento da importância da Reabilitação para a saúde das pessoas, isto é trazer a Reabilitação para a primeira linha de cuidados de saúde.Mas esta mudança de paradigma requer investimento e canalização de recursos financeiros para melhorar uma rede de cuidados que funciona, mas que tem carências que devem ser colmatadas para chegar a todos os doentes que precisam de cuidados de Reabilitação.Estes são temas que estarão em destaque no próximo Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação, onde iremos promover a partilha de conhecimento, a atualização científica e a discussão de temáticas relevantes para a especialidade.Porque a Reabilitação tem de fazer parte das prioridades da estratégia nacional para a Saúde da próxima década. Médico fisiatra e presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação