Razões para o orgulho nacional na China e nos EUA
Muitos inquéritos mostram que a maioria dos cidadãos se orgulha dos seus países, mas poucos examinaram as principais razões pelas quais as pessoas se orgulham dos seus países. Usando inquéritos paralelos na China e nos Estados Unidos, um recente estudo investiga essas razões, os fundamentos para o orgulho nacional nos dois mais poderosos Estados-nação do mundo. Os resultados do estudo são interessantes, porquanto revelam diferenças claras entre os cidadãos dos dois países.
Embora um alto nível de orgulho nacional seja comum aos dois países, as principais razões do orgulho nacional americano tendem a ser fundadas em ideais (com ênfase para várias liberdades), enquanto as principais razões do orgulho nacional chinês são baseadas em fatores materiais (avanços científicos e tecnológicos, crescimento económico).
Muitos dos inquiridos em ambos os países consideraram também importantes os avanços económicos e científico-tecnológicos e as artes e a cultura nacionais, embora em medida diferente. Uma das principais diferenças apurada é a baixa relevância atribuída aos “valores morais” na China.
Esta análise chega a conclusões muito similares às da última onda (2017-2022) dos inquéritos lançados pela World Values Survey (WVS), nos quais se apurou que quase metade dos inquiridos chineses (49%) possuem valores materialistas, enquanto apenas 4% possuem valores pós-materialistas. Esta asserção articula-se com um padrão geral, extraído de inquéritos da WVS, de que o desenvolvimento socioeconómico tende a impulsionar as sociedades de valores materialistas para pós-materialistas. Esta conclusão parece articular-se bem com a teoria de Deng Xiaoping das “duas civilizações” - que diferencia entre “civilização material” e “civilização espiritual” [“socialista”] - dando prioridade [nas políticas públicas] à “civilização material”.
Articulada com o desenvolvimento da “civilização material”, está a “civilização espiritual”, que nada tem a ver com os ideais de liberdades e democracia (como no Ocidente), mas antes entendida como a “civilização das mentes”, que consiste num conjunto de normas morais e práticas a inculcar nas massas, como o trabalho árduo, a abnegação, o patriotismo e a confiança no Partido. Sendo esta a densificação da “civilização espiritual”, compreende-se melhor as respostas dos inquiridos na China para efeitos dos estudos citados.
Apesar de existirem várias outras vertentes da “civilização espiritual socialista” que merecem ser analisadas detidamente, uma evidente vertente dela consiste no pacto social implícito: enquanto buscam a riqueza, os cidadãos chineses devem evitar a corrupção e o egoísmo e obedecer ao Partido. Não anda muito longe da moral do Antigo Testamento, mas com um Deus diferente!