Ramadão 1446 - sem sacrifício para junho!
Primeiro, o Ramadão 2025, 1446 no calendário islâmico, começou no passado sábado, dia Primeiro deste “março marçagão” e também primeiro de jejum, para todos os/as muçulmanos/as do mundo;
Segundo, a notícia magrebina da semana, foi o apelo que o rei de Marrocos, Mohamed VI, efectuou dois dias antes do início deste Ramadão, pedindo aos súbditos para se absterem do ritual do sacrifício do borrego/cabrito, no próximo Eid’ul Adha, projectado para junho próximo. “Traduzido por miúdos”, trata-se da celebração do final da Grande Peregrinação a Meca. Porquê este pedido inédito do “Líder dos Crentes em África”?
Duas razões principais, a corrente seca em Marrocos, que encarece a alimentação das reses, culminando no encarecimento do produto e na ganância humana, que vive nesta época das ansiedades alheias, já que a tradição não é comprar carne, mas sim comprar a rês viva, degolá-la (na senda do Profeta), “abrir o bicho” e fazer o mesmo que nós fazíamos durante a matança do porco. Tal como nós já o fizemos, como se de um sacramento se tratasse, são cinco dias em que primos reencontram primas e os irmãos optam por aparecer no bléd, na “terrinha”, com o carro mais potente, a prova de que tem mais cavalos que o outro!
Ou seja, o pedido real é disruptivo mais das rotinas prosaicas do período, que do cumprimento religioso, que os marroquinos mais não são que “portugueses sincréticos e à solta” que, neste caso e neste período, se guerreiam por saber a quem calha a sorte da “lotaria dos miolos do cabrito/borrego”! A fogueira, o “lume vivo” que geralmente acompanha as matanças, vê na sua extinção o prémio a sair das cinzas, a cabeça da rés, que ali teve os miolos a “maturar no centro de um brasil” de quatro, cinco horas. E este, tanto é o momento da glória já antecipada, caso “os cornos do cabrito” tenham destinatário previamente definido, como também é o momento da algazarra entre primos e primas, onde se disputa esta cereja! É este recreio que faz as famílias, todas, em todo o mundo e é sobre estes momentos que desde quarta-feira os/as marroquinos/as estarão a pensar, “e agora, valerá a pena tirar férias em junho e ir à terra?”
A maioria não deverá faltar a ambas as chamadas, à da reunião famíliar, pois não sabem o que virá amanhã e se será o último Eid (festa) com o idoso mais próximo. Mas também deverão atender ao pedido do seu soberano. Porquê? Porque “respeitinho é muito bonito” e porque a perenidade de um líder, faz do mesmo o “amigo imaginário”, neste caso do súbdito, que também sabe que integridade é aquilo que se faz quando se sabe que ninguém está a ver!
Desejamos a Todos/as muçulmanos/as, indiscriminadamente, firmeza nesse jejum e todas as bênçãos a que têm direito.
Ramadan Kareem a Todos/as!
Politólogo/arabistawww.maghreb-machrek.pt
Escreve de acordo com a antiga ortografia