Queremos adultos que não aceitam a diferença? Eis a receita infalível.

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Diversas situações de violência que ocorreram recentemente no nosso país – e que, infelizmente, não são caso único -, exigem alguma reflexão sobre o caminho que estamos a seguir, enquanto sociedade, no que respeita à capacidade (ou incapacidade) em aceitar os outros, sejam eles brancos ou negros, altos ou baixos, do Sporting ou do Porto, nascidos em Portugal ou em qualquer outro canto do mundo, crentes em Deus ou em Deus nenhum, que gostam de pessoas do mesmo género ou de um género diferente do seu…

Sabemos que as crianças não nascem racistas. Nas salas de creche e jardim de infância, observamos as crianças a interagir umas com as outras, a partilhar brincadeiras e a aceitar, sem juízos de valor, os outros. Sejam eles quem forem. Depois, à medida que crescem, vemos surgir o gozo, a humilhação, a exclusão e mesmo a violência, nas suas mais diversas formas. E assim encontramos jovens e adultos que não aceitam a diferença, que discriminam, marginalizam e agridem.

Naturalmente que este produto final é multideterminado, ou seja, resulta de diferentes variáveis e circunstâncias, individuais, familiares e sociais. Ainda assim, atrevo-me a sugerir uma receita para conseguirmos adultos racistas, que não respeitam a diversidade nem a inclusão, violando os Direitos Humanos das mais variadas formas.

Principais Ingredientes:

· Adultos que modelam a discriminação e que mostram, por palavras e atos, que não aceitam a diferença. Podem rir de uma piada racista, referir-se a alguém como “o gordo”, “o preto” ou “a brasileira” ou, ainda, transmitir a ideia de que quem é diferente é necessariamente inferior.

· Generalizações abusivas como, por exemplo, “os negros são todos violentos”, “os imigrantes roubam-nos o trabalho” ou “os ciganos são ladrões”. Este tipo de distorção, “metendo tudo e todos no mesmo saco”, impede que se tenham em conta as diferenças individuais e que se reconheça que somos todos diferentes, o que não significa que isso seja necessariamente mau.

· Ausência de empatia, mantendo o foco nas necessidades do “eu” e desvalorizando as necessidades do “outro”. Pensar e dizer, por exemplo, “quero lá saber o que o outro sente”, pode ser uma boa forma de ilustrar esta autocentração.

· Críticas destrutivas, focadas no comportamento, mas também na maneira de ser, associando-as a determinadas características da pessoa. Por exemplo, “tem más notas porque é burro, nem sequer fala bem a nossa língua”, “vem de outro país, é ladrão e temos de ter cuidado com ele”, “é preto, não se podia esperar grande coisa” ou “tudo o que aquele gay faz é uma vergonha”.

Se queremos uma sociedade racista e violenta, este é o caminho a seguir.

Se, pelo contrário, queremos uma sociedade mais justa e inclusiva, pois devemos seguir o caminho oposto, não esquecendo que um adulto violento foi antes disso um adolescente, uma criança e um bebé.

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