Quem tem medo das eleições autárquicas?

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Desde as últimas legislativas que a política nacional tem caminhado de eleição em eleição com uma disputa de espaço entre esquerda e direita. O perigo maior é de desfoque da principal prioridade no momento, que é governar. Não podemos estar a pensar na política nacional de ato eleitoral em ato eleitoral, com campanhas e contracampanhas, sem atender primeiro às verdadeiras necessidades do país em áreas estruturais e que exigem reformas profundas. 

Reconheço, porém, a necessidade da esquerda de se reafirmar, de reconquistar o espaço que tem perdido nos últimos anos, e de a direita moderada criar limites, para evitarmos cair em populismos e extremismos que corroem a política e a sociedade.

O movimento que surgiu nestes últimos dias de união das esquerdas é um reflexo desta necessidade, de uma afirmação que se quer saudável, com políticas de equilíbrio e equidade na sociedade, quando se enfrentam grandes desafios tanto no nosso país como na Europa.

Ainda que o repto tenha partido do Livre, que convidou as lideranças do PS, BE, PCP e PAN a “pensar já o próximo ato eleitoral esperado, nomeadamente as eleições autárquicas de 2025”, Pedro Nuno Santos, mantendo-se secretário-geral do PS, terá novamente grande responsabilidade na tentativa de inversão deste ciclo - mais ainda atendendo ao seu passado enquanto secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no primeiro governo de António Costa, de novembro de 2015 a 18 de fevereiro de 2019, na ligação do Executivo com a ‘geringonça’. Se os partidos de esquerda aceitam esta reunião, este é também um voto de confiança em Pedro Nuno Santos.

As autárquicas de 2025 (em setembro ou outubro) serão particularmente desafiantes para o PS, que mais presidentes de câmara terá de trocar (54, mais 10 do que o PSD) por limitação de mandatos, segundo a análise feita pelo DN. Mas o apetite eleitoral faz-se também em autarquias mais disputadas, como a do Porto, onde o independente Rui Moreira está também no seu último mandato, ou a Câmara de Lisboa, que Carlos Moedas ganhou ao socialista Fernando Medina - e que, naturalmente, será ponto de honra para os socialistas recuperá-la.

O PCP nas próximas autárquicas está também obrigado a segurar as 19 câmaras que lidera - e em 11 delas os presidentes estão em fim de ciclo. Mas Paulo Raimundo lembra que tem um projeto “distinto de todos os outros”, o que poderá querer dizer que pretendem ir às urnas sozinhos, num ambiente local onde assumem alguma confiança eleitoral.

Os partidos estão convictos em afirmar que não têm medo de eleições, que estão preparados para a avaliação dos portugueses nas autárquicas, pouco depois de o PS ter conseguido uma vitória tangencial nas europeias. Mas a política nacional, porém, tem de sair deste modo combativo. Não se pode partir para a discussão do Orçamento do Estado para 2025 a olhar para um ato eleitoral ainda longínquo. E neste momento em particular não se pode ignorar o peso crescente que a extrema-direita tem vindo a conquistar e que só se combate com políticas justas e equilibradas e mantendo um discurso assertivo na defesa dos princípios da democracia.

Diretor interino do Diário de Notícias

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