Quem pagará a crise?

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A proposta de criação de um imposto sobre a "burguesia do teletrabalho", que a economista Susana Peralta propôs numa entrevista ao jornal i, inflamou as redes sociais e estimulou o debate sobre a equidade na resposta à crise.

Apelidar genericamente as pessoas que estão em teletrabalho como "burguesia" só poderia ter esse resultado (e provavelmente esse objetivo), pois a esmagadora maioria daqueles que têm estado em casa a trabalhar está longe de se sentir "burguês".

De acordo com a proposta, este novo imposto incidiria sobre quem não perdeu rendimentos, que assim contribuiria para pagar a crise e reduzir as dificuldades daqueles que os perderam.

Apesar de bem-intencionada, a implementação da proposta resultaria infelizmente no agravar da crise.
A criação de um novo imposto pessoal no auge da crise, reduzindo o rendimento

disponível das famílias, não deve ser a prioridade: do que precisamos não é de afundar ainda mais as expectativas, mas sim de compensar as perdas de rendimentos dos que foram afetados e apoiar as empresas, criando condições para o aumento da procura e do investimento. Não devemos, portanto, reduzir ainda mais a disponibilidade financeira das famílias, mas procurar aumentá-la.

A proposta traz, contudo, elementos que merecem uma reflexão mais profunda: quem deve ser apoiado e quem pagará a crise?

A resposta à primeira questão começa por ser fácil: devem ser apoiados os que estão em situação de necessidade. É essa a natureza do modelo social europeu e do Estado social português. Fazendo agir a nossa segurança social pública e recorrendo à solidariedade nacional para os que mais necessitam de apoio e não podem contar com os mecanismos de seguro social. Sei bem que a realidade está longe da perfeição, mas isso não é uma especificidade portuguesa - enquanto percorro as ruas de Bruxelas, confronto-me sistematicamente com a contradição de estar num país rico e ver tanta miséria, tantos sem-abrigo (muitíssimos mais do que em Portugal), para os quais faltam respostas, mesmo num país com um forte Estado social.

Mas a resposta fácil vai-se tornando mais difícil à medida que o impacto da crise nos diferentes setores económicos se torna mais distinto. Enquanto uns foram pouco afetados (como a construção ou o agroalimentar), outros foram-no de forma moderada (indústria) e outros ainda sentem um impacto dramático e que poderá prolongar-se (turismo, restauração, bares e discotecas, serviços não essenciais, cultura).

A realidades diferentes devem corresponder apoios diferenciados, evitando que os setores mais vulneráveis a esta crise sejam simplesmente arrasados.

E, no final, quem pagará a conta? Todos nós, como sociedade, mas a ritmo moderado e só depois de a economia recuperar. E espera-se que desta vez chamando a contribuir os que quase sempre têm evitado contribuir de acordo com os rendimentos que obtêm, em particular as empresas muito grandes, multinacionais, e detentores de rendimentos e patrimónios muito elevados. Quem ganha mais contribui mais. É simples; é apenas justiça social.

10 valores

Parecia uma homenagem a Alfredo Quintana. E foi. Mas foi também um jogo épico que permitiu, pela primeira vez, o apuramento da seleção nacional de andebol para os Jogos Olímpicos. Um exemplo de superação, trabalho e competência. O país sentiu orgulho. E a memória de Quintana foi honrada a grande altura.


Eurodeputado

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