Uma mulher de 38 anos, grávida de 31 semanas, residente no Barreiro, sofreu a morte intrauterina do bebé após não conseguir ser atendida de imediato - tentou, sem sucesso, a linha Saúde 24, depois a emergência do INEM. Quando os bombeiros finalmente chegaram, verificaram que existia uma hemorragia significativa.
Nessa noite, todas as urgências obstétricas da Margem Sul estavam encerradas. A grávida foi transportada para o Hospital de Cascais, a mais de uma hora de distância, onde já se constatou que o feto não apresentava sinais de vida.
Uma notícia do Expresso refere que a linha Saúde 24 havia encaminhado anteriormente a grávida para o Hospital de Santa Maria, mas ela comunicou que não tinha dinheiro para a viagem Barreiro-Lisboa - e ninguém lhe deu outra solução.
Desde a tomada de posse do atual primeiro-ministro e da sua ministra da Saúde, em 2 de abril de 2024, o número de encerramentos de urgências hospitalares de obstetrícia/ginecologia não parou de aumentar. Em 2024, esse número cresceu cerca de 40% em relação a 2023. Este ano, no fim de semana da Páscoa, chegaram a estar nove serviços encerrados no sábado e dez no domingo, em contraste com apenas quatro no domingo de Páscoa do ano anterior.
O pico de encerramentos em 2024 ocorreu a 23 de junho (um domingo), com sete urgências obstétricas de porta fechada em simultâneo - um recorde que já foi ultrapassado em vários momentos de 2025. Durante os próximos meses, com as férias de médicos e enfermeiros, a situação será ainda pior.
Numa declaração à agência Lusa, a líder da FNAM, a médica-sindicalista Joana Bordalo e Sá, afirmou: “Na semana passada, tivemos dois casos fatais, muito infelizmente, que muito lamentamos. No ano passado, tivemos, segundo dados dos bombeiros, meia centena de bebés a nascerem em ambulâncias. Em 2025, ainda vamos a meio do ano, e já vamos em 36 bebés nascidos em ambulâncias. Isto não é normal.”
Os dados disponíveis na imprensa portuguesa, nos comunicados da DGS e dos sindicatos médicos, apontam ainda para um aumento drástico dos “encerramentos parciais” ou condicionamentos: em 2024, houve um crescimento de +305% em relação ao ano anterior, segundo uma análise do Expresso.
Há falta de médicos especialistas para preencher as escalas de serviço. Como não se quer aumentar a despesa permanente do Estado, pagam-se fortunas por soluções paliativas, provisórias e falhadas. Não faltará, porém, dizem as notícias, dinheiro para dar à NATO...
Entretanto, a taxa de mortalidade infantil em Portugal subiu 20% em 2024, o que constitui o primeiro aumento desde 2019. Embora múltiplos factores influenciem a mortalidade infantil, não se pode deixar de notar este contexto de “elevados constrangimentos” nos serviços de obstetrícia como pano de fundo preocupante.
Depois de, em abril do ano passado, o Governo ter prometido aplicar um plano de 100 dias para a Saúde - completamente fracassado - a ministra Ana Paula Martins anuncia agora uma reorganização das urgências. Quem acredita nela?
E para aqueles que pensam, felizes com esta degradação do Serviço Nacional de Saúde, que o privado é a solução, pergunto: que resposta têm para dar à mulher em gravidez de risco que não tinha dinheiro para pagar uma viagem Barreiro-Lisboa para dar à luz em Santa Maria? Que o Estado lhe faça um seguro de saúde?...
Jornalista