Quando um papa cativa crentes e não crentes
A perda recente do papa Francisco confronta-nos com a dor da finitude. Que chega a todos, a qualquer momento e de uma forma totalmente imprevisível. E é na dor da perda que recordamos aquele que foi - e continua a ser, na memória de todos e de cada um de nós - um homem raro. Raro pela humildade e pela coragem, pela determinação e perseverança e, também, pela capacidade em acender no coração de todos - crentes e não crentes - a centelha da esperança.
Do encontro privado com o papa Francisco, que tive a honra de experienciar por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, em 2023, recordo em particular o olhar atento e a escuta ativa. Antes de falar uma só palavra, olhou e escutou cada pessoa. Uma de cada vez. Como se, naqueles instantes, os relógios parassem e mais ninguém existisse.
Mais do que ver, olhou.
Mais do que ouvir, escutou.
Esta capacidade em acolher todos, sem exceção, conduziu, a meu ver, a algo único. A capacidade em cativar e envolver não apenas os crentes, mas também aqueles que não acreditam na existência de Deus ou que questionam a sua existência. Crentes, ateus, agnósticos e também muitos que acreditam em algo superior, embora não saibam bem em quê ou em quem, encontraram no papa Francisco um porto de abrigo, de braços abertos e colo sempre pronto.
Este papa teve, portanto, o dom de chegar ao coração de todos, mesmo aqueles que não se reviam nas suas crenças. Porque, em rigor, não é preciso acreditar na existência de Deus para seguir o caminho da bondade e da inclusão, cultivando a esperança num mundo mais justo e protetor.
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal