Quando o silêncio não é de ouro
Todos nós ao longo da nossa vida, quer como empregadores, quer como trabalhadores, já nos deparámos com aquele trabalhador, ou aquele colega, que entra à sua hora, não sai um minuto mais tarde que seja, e, no entretanto, limita-se a cumprir as responsabilidades básicas para que não seja despedido, não demonstrando nenhum entusiasmo ou despendendo qualquer laivo de esforço extra, tendo como objetivo único chegar ao fim de cada mês, para que lhe seja paga a respetiva remuneração. E este comportamento está, de facto, em crescimento.
Iniciado no TikTok, e rapidamente viral, o movimento Quiet Quitting, ou “demissão silenciosa”, designada assim por Mark Bolder em 2009, tem estado a emergir, de forma considerável, no mundo corporativo.
O Quiet Quitting pode levar a uma reavaliação profunda sobre o trabalho, já que, ao contrário de A Grande Demissão, não se trata de deixar o emprego ou fazer planos para se despedir “silenciosamente”. Reflete, sim, a importância de limitar as tarefas profissionais apenas ao que está estritamente definido na descrição do trabalho. Ou seja, não assumir mais tarefas e responsabilidades do que a sua função atual estabelece e isso significa executar apenas o seu trabalho específico, de forma profissional claro, e nada mais.
E os objetivos são evitar o burnout, ao trabalhar mais horas do que o necessário, e evitar fazer mais do que aquilo para o que foi contratado, sem ser remunerado por isso. Contudo, parece-me que este movimento é concretizado de forma unilateral e com demasiado radicalismo. Se são necessárias mudanças? Sim, sem dúvida, mas não é possível dispensar um compromisso individual e emocional com a empresa (employee engagement), e a necessidade de se desenvolver uma intensa e próxima cooperação, entre trabalhador e empregador, ponderada e saudável.
Não é fácil alcançar um novo equilíbrio entre o trabalho, a vida pessoal e a saúde mental, mas por ser tão difícil, precisamos do empenho e da colaboração de ambas as partes, empregadores e trabalhadores. As empresas devem assumir um pacto de ética social com os seus colaboradores. Aceitando que a motivação humana para o trabalho não resulta, apenas, da remuneração e da carreira, mas começa pelo sentimento de que a pessoa se sente valorizada, reconhecida e sobretudo respeitada. E o trabalhador tem de se comprometer com a empresa, porque trabalhadores que não produzem, também não contribuem para que as empresas possam gerar riqueza para distribuir.
Já falei, escrevi e refleti vezes sem conta sobre as causas e sobre as estratégias, mais ou menos criativas, que os empregadores podem, e devem ter, para captar e manter motivados os seus ativos e a urgência de se intervir nestas matérias, necessidade motivada também pela falta de trabalhadores que as atividades económicas, na generalidade, enfrentam. Mas, sublinho, que não deve a questão ser apenas vista desta perspetiva, pois tal como há “patrões e patrões”, também há “trabalhadores e trabalhadores”, e estes também têm de assumir a sua quota parte de responsabilidade.
Vamos, todos juntos, com as responsabilidades que cabem a cada parte, combater as razões deste fenómeno silencioso, que pode ter um efeito estrondoso nos negócios. Fiquem atentos ao tema, que ainda vamos falar muito dele.