PS. Não é fácil regressar ao lugar onde se foi feliz

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A marcação para breve de eleições diretas para a escolha do cargo de secretário-geral do PS foi uma das mais acertadas decisões tomadas após o desastre eleitoral que os socialistas sofreram no domingo, dia 18.

A hipótese de deixar o PS em modo de gestão até às eleições autárquicas, sob a batuta do presidente Carlos César, era provocar um desgaste ainda maior do que aquele que os socialistas já sofreram. Imaginem o Largo do Rato, sem uma liderança, a fervilhar de sensibilidades que tudo fariam - e tudo é mesmo tudo - para se posicionarem no sentido de se aproximarem da lareira e do calor do próximo poder que venha a gerir os destinos socialistas.

José Luís Carneiro é, no momento, o que de melhor o PS possui para enfrentar os tempos conturbados que estão a chegar.

O que será o PS do futuro? Que Partido Socialista vai surgir no próximo horizonte político, com a sistemática afirmação dos partidos da direita, muito em especial o Chega que, quase, seguramente, vai tornar-se na segunda força política em Portugal com o dossier da oposição por sua conta.

Que caminhos restam ao PS para que não tenha o mesmo destino político dos seus congéneres francês ou italiano? Alguém sabe por onde anda o PS francês ou o italiano? E como se findaram, nas respetivas sociedades, estas duas forças socialistas de François Mitterrand ou Bettino Craxi? E o PS português? Poderá seguir o mesmo caminho?

Sob os ombros de José Luís Carneiro pesa a responsabilidade de devolver ao PS a energia e o protagonismo que António Costa desbaratou nos oito anos em que tomou conta do PS.

A longa história do PS revela-nos um partido que sempre se foi adaptando às mudanças sociológicas que Portugal foi sofrendo.

O PS de Mário Soares e Salgado Zenha soube ser e desempenhar uma papel de oposição quando o regime Salazarista/Marcelista entrava em declínio.

O PS não desperdiçou a oportunidade de enquadrar Portugal na União Europeia e transformar-se num país que, se o roadmap tivesse sido seguido com rigor, seria hoje um dos países mais prósperos e desenvolvidos da União Europeia.

Soares soube também ocupar a Alameda D. Afonso Henriques quando foi necessário colocar o Partido Comunista no lugar histórico que lhe pertencia. Soares e Zenha foram os obreiros de um PS símbolo verdadeiro e genuíno de uma força política que tinha como farol a democracia, a liberdade, os Direitos Humanos, a dignidade, a defesa dos mais desvalidos e desprotegidos da sociedade portuguesa.

António Guterres não perdeu o norte nos valores e princípios que sempre nortearam o PS. O bem-estar da população, nas suas mais elementares componentes, a Saúde e a Educação, transformaram-se em bandeiras do seu governo. Guterres pensou, e bem, que, com o PS, “as pessoas estão primeiro”. E estavam. António Guterres não atraiçoou o que era a cartilha humanista dos socialistas. Mais ou menos acentuadamente, os portugueses iam acreditando nos princípios sinceros que Guterres fazia questão de transformar nos seus objetivos principais. A Educação tinha de ser o motor do desenvolvimento do país através do crescimento dos índices educacionais e das oportunidades que a Educação dá a todos os que têm acesso a ela. Guterres queria que o país se desenvolvesse através do crescimento educacional dos portugueses. Projeto longo mas de resultados certos.

Com o PS a entrar na era de Sócrates todos sabemos o que correu mal e o pouco que correu bem. Apesar de tudo, Sócrates deixou uma marca na desburocratização da máquina administrativa e algumas iniciativas importantes nas energias limpas. E findou-se por ai!

Os anos seguintes de 2015 para a frente é um longo processo de descaracterização do PS, sem que as estruturas, os militantes, as juventudes consigam marcar encontro com o domínio dos princípios e valores que eram apanágio do PS. A habitação degradou-se e o PS ficou mudo. O SNS desvaneceu-se e o PS não conseguiu mantê-lo vivo e atuante. A demografia foi descendo, sem que nada se fizesse para reverter a situação. A Justiça nunca foi reformada. O ensino profissionalizante desapareceu e, para substituir os velhos operários, veio uma imigração degradada, pobre e quase escravizada. E a fisionomia das principais cidades foi-se alterando com uma nova “escravatura” que nem conseguimos ordenar administrativamente

E agora José Luís Carneiro? Que fazer?

Talvez começar por falar verdade às pessoas. Não as enganar. Não lhe esconder os problemas que temos de enfrentar. Não perder o norte. Mas colaborar. E facilitar. E ajudar. Por aqui permanece um país que continua adiado.

Jornalista

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