PS e Chega 'BFF'? Não cola
A já esperada queda do Governo Regional da Madeira, na sequência de uma moção de censura apresentada pelo Chega-M, que contou com o voto favorável de todas as forças políticas da Oposição, deu ao PSD e ao primeiro-ministro Luís Montenegro uma nova oportunidade de tentar colar o PS ao partido de André Ventura. O problema é que não cola. Do programa político à visão económica, da mensagem com que pretendem captar votos às prioridades que querem definir nas políticas sociais, há um mar de propostas e ideias que separam Chega e PS. Por mais que o Governo diga o contrário, o eleitor percebe essas diferenças. E também sabe ver que o Governo fala nessa colagem mas, ao mesmo tempo, vai pisando terreno eleitoral do Chega, dando destaque cada vez maior a operações securitárias como a de quinta-feira no Martim Moniz.
O que realmente une Chega e PS nesta altura não é a ideologia – nunca foi e é um disparate pensar o contrário –, mas sim a matemática. Se na Madeira ainda foi preciso juntar às contas JPP, IL e PAN para derrubar o Executivo de Miguel Albuquerque – envolto em processos judiciais que implicam o presidente e quatro dos sete secretários Regionais –, no Parlamento Nacional nem sequer é preciso esse esforço, pois a soma de deputados do PS (78) e do Chega (50) ultrapassa tranquilamente os 116 necessários para ser aprovada uma moção de censura.
Se a conjuntura política, económica, social e, já agora, as sondagens evoluírem de forma a que tanto Pedro Nuno Santos como André Ventura se convençam de que estão em condições de reforçar o atual peso político, então chegará a altura em que vão exercer o poder que os eleitores lhes deram nas Legislativas de março de 2024. Isto não significa que andem de braço dado ou que sejam os novos BFF (Best Friends Forever) da política nacional. É puro cálculo e uma questão de encontrarem o timing certo para agir. 2025 promete trazer esse tipo de oportunidades.
No país, vemos o desemprego a crescer. Na Europa, França e Alemanha vivem-se crises políticas que ameaçam as Finanças dos dois motores económicos da UE – além de serem importantes parceiros comerciais de Portugal, o quadro de incerteza económica recomenda prudência às empresas nacionais, que poderão travar ou adiar investimentos para resistirem a uma eventual crise. No mundo, além das guerras, teme-se o alcance das medidas protecionistas anunciadas por Trump para os Estados Unidos.
Por outro lado, o Governo vai executar o seu próprio Orçamento, o que lhe retira margem para se desculpar com a herança que recebeu do PS. Esta semana, Marcelo Rebelo de Sousa falou num Executivo que está numa “corrida em contrarrelógio”, na qual “um dia perdido pode ser irrecuperável”. Esse tic tac do cronómetro está a contar. Montenegro tem oito meses pela frente que serão decisivos para mostrar trabalho.
A partir de setembro, quando Portugal se concentrar nas Autárquicas e na discussão do próximo OE, PS e Chega terão duas ocasiões para avaliarem se estão em condições de encarar o desafio de abrir novo ciclo eleitoral. Até lá, ao Governo, mais vale arregaçar as mangas e deixar de atirar areia para os olhos dos portugueses.