Programa do Governo. Esperemos que a bola não caia no chão...!

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Parece não existirem dúvidas de que há um ímpeto reformista neste governo, conforme foi visível na discussão do seu programa.

Mas parece, também, haver um excesso de confiança do governo no facto de que as oposições, PS e Chega, suportem, com responsabilidade, as alterações que o Executivo da Aliança Democrática quer introduzir na sociedade portuguesa e que são de todo urgentes.

Vale a pena revisitar alguns dos aspetos reformistas, mais importantes, com que o governo quer deixar a sua marca. Regular a imigração, privatizar algumas empresas públicas em particular as de transporte ferroviário, rever a lei da greve, baixar os impostos, IRC e IRS, modernizar a máquina do Estado, alterar a metodologia de atuação das polícias, num novo exercício de proximidade e prevenção, criar um novo SEF, permitir que quem recebe apoios sociais, trabalhe e possa agregar o valor desse trabalho ao valor monetário das quantias sociais que recebe, são algumas das alterações na sociedade portuguesa que podem ter um significado profundo. Estamos, pois, face a uma agenda reformista, ainda que de caráter minimalista.

Mas perante esta desígnio do governo deixa-nos um “arrepio na espinha” quando ouvimos o novo líder da bancada socialista, Eurico Brilhante Dias, numa entrevista à Rádio Observador, colocar reservas constitucionais à alteração da lei da greve. Ou, também, quando escutamos André Ventura falar já em moção de censura ao governo se não se verificarem alterações imediatas, profundas, nas questões da saúde.

Bom, quanto ao PS parece não ter ainda percebido que o imobilismo foi uma das razões que levou à sua derrota e o lançou para terceira força política no Parlamento. Existem restrições no direito à greve em países como a Suécia, Dinamarca e Áustria e o PS continua refratário a mudanças.

Relativamente a André Ventura continua na sua lógica política de irresponsabilidade, sem qualquer sentido de Estado e focado apenas na sua agenda de destruição rápida do governo de Luís Montenegro para chegar ao topo do poder tão depressa quanto possível. O seu discurso final foi um exemplo acabado desse desejo.

Neste debate do programa do Governo, Luís Montenegro parece estar, assim, demasiado confiante na responsabilidade das oposições em suportarem o Executivo nas alterações estruturais que pretende fazer na sociedade portuguesa.

Que, naturalmente, por agora, não passam de meras declarações de intenção.

Este governo vai ser avaliado não pelas expectativas que lançou, hoje, na opinião púbica, mas por aquilo que conseguir concretizar no futuro. Cada vez mais os portugueses valorizam muito mais o executado do que o falado.

O Governo ganhará a confiança da população quando existirem casas no mercado de habitação para alugar e os escritos brancos voltarem ás janelas dos andares. Ou quando, nas grandes cidades, começarem a ser visíveis polícias nas ruas, em patrulhas, a pé ou de automóvel, prevenindo e respondendo ao crime com eficácia e rapidez numa prática de proximidade que se perdeu. O governo sairá vencedor quando começar a instalar-se em Portugal novas empresas atraídas por um novo IRC mais competitivo, originando mais emprego e uma maior competitividade da economia portuguesa.

O Governo será olhado com respeito pela população quando os imigrantes que cá estão trabalharem e o façam integrados na sociedade portuguesa com condições sociais dignas.

O futuro sucesso do governo sentir-se-á, ainda, quando um qualquer criminoso estiver julgado, condenado e na cadeia ao fim de três meses num exercício de uma Justiça mais célere.

O juízo que os portugueses vão fazer deste governo estará ligado não ao discurso politico, mas sim quando as alterações que vierem a ser feitas na saúde possibilitem o aumento dos médicos de família, consultas e intervenções cirúrgicas mais rápidas.

Os portugueses vão, ainda, acreditar no Executivo quando a modernização a introduzir na máquina dos Estado o coloque menos burocrático e mais amigo do cidadão.

Luís Montenegro, infelizmente, não tem uma maioria absoluta. Sim, uma maioria absoluta idêntica aquela que foi entregue a António Costa e que este desperdiçou no que foi um dos mais lamentáveis atos políticos que Portugal conheceu.

Por agora, Luís Montenegro não vai ter vida fácil no Parlamento como pode concluir-se do debate do programa do Governo. O primeiro-ministro numa imagem futebolística que vai ficar famosa declarou que vai jogar com os dois pés, com a cabeça e até vai receber algumas bolas com o peito. Pois bem, que não lhe falte habilidade, destreza e argúcia política, para que, durante o jogo, não deixe a bola cair no chão.

Jornalista

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