Procuram-se 1800 milhões de euros e um aumento de salário

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Estando ainda na entrada do ano, vale a pena perguntar: podem 1.800 milhões de euros desaparecer à frente dos nossos olhos? Poder, podem. Se não desaparecessem, não seria a mesma coisa.

O montante não é ficcionado, é o valor estimado de benefícios fiscais em IRC para o ano de 2025. São impostos que o Estado deixará de cobrar porque houve na Assembleia da República quem decidisse que esses impostos não devem ser cobrados.

Na imensa maioria (se não mesmo na quase totalidade) esses impostos deixarão de ser cobrados a quem tinha mais condições para os pagar. Trata-se de benefícios fiscais que aproveitam sobretudo aos grupos económicos e financeiros e a quem acumula fortuna com os seus dividendos, independentemente da origem mais ou menos especulativa ou parasitária que tenham.

Os factos não são novos mas ganham atualidade pelo contraste que fazem com a vida do povo. As facilidades dadas aos grupos económicos são proporcionais às dificuldades com que se encaram as soluções para os problemas dos trabalhadores, com destaque para o aumento dos seus salários.

No final de 2024 ficámos a saber das escandalosas previsões de lucros das grandes empresas que, em alguns casos, superaram até as melhores expectativas. Considerando os principais grupos económicos de base nacional, a média terá sido de 32 milhões de lucro por dia.

Não sendo esses resultados positivos distribuídos pelos trabalhadores por via de aumentos de salários, é para os lucros que eles são canalizados. Pagando menos impostos sobre esses lucros, são os acionistas dos grupos económicos que encaixam ainda maiores dividendos. Aumentando os dividendos e não aumentando os salários, é a riqueza nacional que fica distribuída com ainda maior injustiça, em prejuízo dos trabalhadores.

Passada a primeira dúzia de dias de 2025, já vimos também que não há problema do povo que encontre no ano novo perspetiva de solução da parte do Governo.

Da saúde à habitação, da educação à Segurança Social, das creches aos lares ou aos equipamentos de apoio a pessoas com deficiência, não há problema ou dificuldade em que se esbarre que não traga atrás o respetivo responsável governamental repetindo um lamento pesaroso de que “não há dinheiro para tudo”, de que “os recursos do País não são infinitos”, de que “é preciso estabelecer prioridades”, de que “apesar das dificuldades se está a fazer o que é possível”.

É aqui que ganham atualidade as frases do título e de uma canção conhecida: então e os 1.800 milhões de euros perdoados aos grupos económicos? E o povo, pá?

Ninguém espera que o Primeiro-Ministro tenha a franqueza de abrir noticiários anunciando ao País que perdoa aos grupos económicos 1.800 milhões de euros de impostos mas não resolve os problemas do povo porque não há dinheiro.

Também ninguém se deve espantar que o povo não deixe esquecer essas opções e que os trabalhadores continuem a levantar a voz a exigir o aumento dos salários.

Eurodeputado

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