Presidenciáveis em construção

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Compreende-se que o tema das presidenciais fosse tabu no Congresso do PSD. Luís Montenegro não queria nenhum dossier político que ensombrasse as medidas do governo que foram apresentadas no seu discurso final. Não admira, pois, que Marques Mendes tivesse cometido um erro político com a sua presença no fórum social-democrata, na esperança de sair de lá entronizado como candidato do PSD às próximas eleições presidenciais. Não saiu. De surpresa, Pedro Santana Lopes lembrou com a sua inesperada aparição que Marques Mendes não é o única hipótese da família laranja na corrida a Belém. 

E não é mesmo! Há, ainda, um outro nome que no conclave do PSD,um pouco em surdina, ia sendo mencionado pela bases. O nome de Pedro Passos Coelho. Passos Coelho faz parte do conjunto de políticos, tal como António José Seguro, do PS, que ganharam admiração nacional pela trajectória que deram às suas vidas após o abandono das lides partidárias. Passos Coelho, enquanto primeiro-ministro, fez o que tinha de fazer quando se impunha salvar o país da bancarrota. Não virou as costas. Teve sentido de Estado e do interesse nacional. E com isso ganhou as eleições seguintes, cujo resultado prático e institucional foi transfigurado por uma aliança da esquerda, no Parlamento, protagonizada por António Costa, em Outubro de 2015. Depois, Passos Coelho, discretamente, enveredou pela vida académica.

António José Seguro foi, politicamente, cilindrado por Costa tendo-se afastado da vida política activa. Vítima de um ódio de estimação de Costa, António José Seguro “auto anulou-se”, politicamente, tendo regressado à sua vida privada. Foi um nome, recentemente, avançado por Álvaro Beleza como presidenciável da área socialista.

No leque dos presidenciáveis em construção, Passos Coelho e Seguro têm o capital de prestígio que lhes advém de um certo afastamento da política activa e os coloca num patamar superior, como candidatos presidenciais.

Não fazem parte de um outro grupo, como Mário Centeno ou Augusto Santos Silva, que têm beneficiado, o primeiro, da vantagem das portas giratórias, e o segundo sendo “a man for all seasons” para tudo o que é cargo político quando o PS está no poder.

Na lógica da contenda presidencial existe também o incontornável nome de Gouveia e Melo. Um militar, mas um militar com um inestimável serviço ao país difícil de esquecer. Quando os protagonistas governamentais falhavam na logística da toma das vacinas da Covid à população, Gouveia e Melo surgia, do nada, organizando uma das maiores e mais prestigiadas operações logísticas de saúde nunca verificadas em Portugal. António Costa comprou as vacinas, mas Gouveia e Melo é que construiu a máquina que as fez chegar à população. 

Na corrida presidencial de 2026 há, pois, os beneficiados pelo seu afastamento da fogueira da política activa, há os fazedores, e os outros que, diariamente, estão em funções políticas de desgaste o que lhes retira vantagem na contenda presidencial que se aproxima. E o exemplo máximo disso é o do possível candidato André Ventura do Chega. “Muita parra e pouca uva” para a possibilidade de,um dia, vir a ocupar o Palácio de Belém.

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