Prepara-te ou serás irrelevante
Passam por mim centenas de pessoas - entre participantes de programas, potenciais participantes e responsáveis de recursos humanos e de outras áreas de empresas - e as perguntas recorrentes são sobre o que fazer profissionalmente, como preparar e antecipar, se possível, o futuro incerto. Não se sabe se pós-pandémico se continuadamente pandémico.
Não sinto uma grande preocupação com a existência de ofertas de trabalho.
Não sinto uma grande preocupação com a paragem do mercado de trabalho no recrutamento pois todos sabemos que mais cedo ou mais tarde recupera e abre.
Não sinto uma grande perturbação com locais de trabalho ou com deslocações ou mesmo com movimentos pendulares superiores para trabalhar porque há sempre a hipótese, em muitos casos, de procurar equilibrar com algum trabalho remoto.
Sinto, sim, uma preocupação enorme das empresas com o problema da retenção.
Sinto, igualmente, e por parte das pessoas, uma tensão sobre se estão capazes de se adaptar ao que aí vem, até porque não sabem o que é.
Sinto, mais do que tudo, algum desnorte, nas pessoas como nas empresas, sobre o que fazer e como fazer.
Falo de formação e digo sempre o que digo há anos. Quem não sabe o que fazer, como fazer, porque fazer, faça simples. Faça formação. Jogue nas competências. Jogue nas capacidades. Jogue na preparação.
Antecipar o futuro é um debate contínuo que se faz em formação.
Reter pessoas nas empresas é um grande desafio com um aliado natural na formação.
Preparar o que aí vem é investir em si próprio. Preparar o que aí vem é investir nas suas pessoas. Preparar o que aí vem, o que quer que seja, é investir no conhecimento, em novas formas de aprendizagem, em novas dinâmicas, em novos conteúdos, em abrir a cabeça à mudança, à rede, à partilha de ideias, à construção e coconstrução. Preparar o que aí vem é fazer formação.
Pergunta típica: mas se não sei para onde vou como me preparo? Respondo sempre: se não sabes o destino pelo menos prepara a viagem. Vais mais leve, mais confiante, mais positivo se levares contigo alguma coisa útil. Um tool de instrumentos. Um tool de capacidades. Um tool de competências. Se o não fizeres és mais vulnerável, terás menos potencial de empregabilidade, conseguirás menos fit com o que se aproxima. Às empresas o mesmo: preparem as pessoas. São elas que irão fazer a diferença, seja o caminho para onde for.
Tudo passa, metaforicamente, pela forma como corremos em "manada". Se uma gazela, na sua manada, corre para o centro da manada, quase atropelando outras em busca de um lugar menos vulnerável a leões predadores, pois devíamos seguir exatamente o mesmo pensamento. Porque estar no meio da manada significa para a manada de gazelas uma menor vulnerabilidade enquanto corre.
O que vamos fazer daqui para a frente? Correr, como sempre.
E para onde vamos correr? Ainda não sabemos bem, se bem que já haja um conjunto de pistas que nos dão orientações.
Como vamos correr daqui para a frente? Esta é a questão decisiva. Em grupo, claro, mas procurando o centro do grupo. O lugar de menor vulnerabilidade. E o que é o centro do grupo à escala humana? O lugar onde as empresas têm quadros mais preparados e onde as pessoas se tornam mais apetecíveis. O lugar do conhecimento, o lugar das competências, o lugar das capacidades.
Portanto, se não estiveres no centro - onde há conhecimento - serás irrelevante no futuro. Como pessoa ou como empresa. Prepara-te pois.
Professor catedrático, ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa. Presidente do ISCTE Executive Education