Possível política externa do novo governo iraniano

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A 13.ª eleição presidencial no Irão foi realizada com a participação de quase 49% da população. Ebrahim Ra'isi obteve o maior número de votos entre os demais candidatos e foi declarado vencedor da eleição. Nesta eleição. a afluência não foi tão elevada em comparação com eleições anteriores, pelo que estes resultados mostram insatisfação com a situação económica e com a gestão dos problemas internos e das interações estrangeiras.

A menos de duas semanas da tomada de posse do novo governo e da chegada do presidente eleito, a pergunta importante que se coloca é: quais são as expectativas e as possibilidades da política externa?

Depois de suportar uma década de sanções e pressões políticas e económicas combinadas com negociações erosivas, o regime da República Islâmica do Irão em 2015 chegou a um acordo sem precedentes com seis potências mundiais sobre seu programa nuclear. Um acordo para suspender as sanções econômicas ao Irão em troca de restrições ao seu programa nuclear. Infelizmente, os frutos desse acordo ainda não eram bem visíveis na economia do país e na vida do povo iraniano. Com a retirada ilegal dos EUA do acordo e a inação da Europa contra essa ação, uma nova leva de sanções e pressão máxima engolfou a economia do Irão e a vida dos iranianos. Para além disso, a eclosão da crise do novo coronavírus, a ineficiência, em parte, de gestão da mesma pelo país, a disseminação da corrupção e a continuação de problemas estruturais no sistema económico, tomaram como reféns a vida e o sustento das pessoas, reduzindo drasticamente o poder de compra de grande parte da sociedade.

Já se passaram mais de quatro décadas desde que a eleição presidencial no Irão foi instaurada para que houvesse transferências de poder. Mas, durante esse período, uma das questões que desempenhou um papel menor foi a da política externa. Em geral, para desenvolver e avançar objetivos estratégicos, os países, além de olharem para os problemas relacionados à política interna, também enfatizam a sua política externa. Mas o fraco desempenho do governo Rouhani na gestão económica interna, aliado ao surgimento do Trumpismo e sanções irracionais e opressivas, levou a uma frente fundamentalista e candidatos revolucionários, bem como à desconfiança de grande parte do povo e à atuação do Conselho Guardião em nomear candidatos presidenciais no sentido de restringir os reformistas e moderados. Dada a insatisfação do povo com a situação atual e os problemas de subsistência e elevada inflação no Irão, bem como o desrespeito da comunidade internacional, especialmente dos Estados Unidos, por (não cumprir as) suas obrigações sob o acordo nuclear, uma parte importante da opinião pública está altamente pessimista sobre o Ocidente.

A este respeito, sob o slogan de confiança na autoridade nacional, com melhoria das condições económicas e de subsistência das pessoas, o novo governo promete lutar contra a corrupção e impulsionar a produção nacional, evitando importações excessivas.

Claro, Ra'isi pouco falou sobre política externa em sua campanha eleitoral, e essa questão de análise da política externa do seu governo deixa com sérias ambiguidades. Mas o ponto mais importante da política externa do chefe de Estado está relacionado com o acordo nuclear, que foi mencionado no debate eleitoral: "Francamente, nos referimos a JCPOA como um contrato aprovado pela liderança com 9 cláusulas, certamente como um contrato e compromisso que os outros governos (5+1) têm de cumprir, e nós cumprimos.

O presidente eleito não limita sua política externa ao JCPOA e fala de um espírito interativo ao declarar que a sua política é a interação com o mundo. No campo da diplomacia, o presidente pode ser considerado um fenómeno desconhecido, mas de acordo com as evidências, ele pretende agir com base no princípio do respeito mútuo e do equilíbrio nas relações exteriores.

Apesar de ter entrado nas eleições de forma independente, o presidente eleito teve o apoio de todos os partidos de direita e conservadores. Portanto, estes inadvertidamente recorrerão a políticas persuasivas, na busca de satisfação dos grupos de apoio. No entanto, deve-se notar que os princípios básicos e a abordagem do seu governo com a abordagem geral do sistema no tipo de interação com o mundo não podem ser muito diferentes, e apenas no método de formulação de políticas podem ser observadas diferenças.

Outro ponto a respeito da discussão das relações externas e das questões que a rodeiam para a implementação dos acordos internacionais é a questão do FATF, que, segundo as declarações feitas, o governo central não se opõe à sua aceitação geral. A maioria das cláusulas deste contrato está atualmente implementada no Irão e apenas alguns casos estão a ser considerados. Nestes casos, como no de financiamento do terrorismo, na prática não há escolha a não ser aceitar os princípios esperados pelo FATF, mas sua aceitação está de alguma forma atrelada à implementação do acordo nuclear. Portanto, pode-se esperar que, se JCPOA for implementado no futuro governo do Irão, a sua tarefa será determinada.

Conforme destacado nas observações do presidente eleito, a política externa dominante do governo está voltada para as relações económicas bilaterais com vizinhos e outros países em desenvolvimento. De facto, nessa visão, dados os problemas de subsistência e económicos, o governo eleito está a tentar seguir um plano de longo prazo para continuar o comércio externo e fornecer um ambiente económico seguro para as relações econômicas do Irão. Desta forma, o governo de Ra'isi procura evitar o risco de sanções, bem como de restrições internacionais à sua economia, contando com a expansão das interações bilaterais com vizinhos e países amigos e de cooperação regional. Para explicar essa abordagem, devemos mencionar a proximidade do Irão com a Rússia e a China e o estabelecimento de cooperação bilateral de longo prazo com estes países. Essa abordagem pode ser útil para o governo eleito, a fim de expandir as relações regionais e implementar as políticas da economia de resistência.

Essa abordagem foi explicada em algumas teorias das teorias da economia internacional. Por exemplo, a teoria da interdependência e reciprocidade pode ser vista na natureza do desempenho do governo eleito. No sentido em que por um lado define a necessidade mútua e por outro se refere à oposição à dependência e ao conceito de autossuficiência. Nessa visão, levanta-se a importância do governo no tipo de resposta às forças internacionais. Os governos examinam de forma interativa as trocas económicas para o progresso e o desenvolvimento e, às vezes, tentam nacionalizar alguns produtos para criar empregos e meios de subsistência. Todas essas premissas serão apuradas e completadas com a formação de um novo gabinete, especialmente a equipa económica do presidente eleito. A comunidade internacional, devido à falta de conhecimento suficiente da abordagem internacional do Presidente, está a tentar investigar mais a fundo no momento apropriado para interagir em vários campos.

Embora a maioria dos requisitos para cumprir as promessas eleitorais do presidente eleito devam ser encontrados nos planos económicos de seu governo, a nível interno, e no uso adequado das capacidades nacionais, não há dúvidas sobre a importância do uso de ferramentas de política externa para ajudar à recuperação económica do Irão. Ao criar uma interação positiva, construtiva e equilibrada com a economia global com base nas estratégias delineadas nos documentos anteriores e no Sexto Plano de Desenvolvimento, o Irão dará uma contribuição significativa a esse respeito. Portanto, o presidente eleito, tal como adiantavam as promessas eleitorais e na primeira entrevista aos media após o escrutínio, descreveu a diplomacia econômica como um dos princípios centrais da sua política externa.

É importante notar que em governos de direita, especialmente no Médio Oriente, a visão ideológica da política externa é muito evidente. Isso significa que, para comunicar e garantir os interesses nacionais, a prioridade é dada aos países ideologicamente próximos e alinhados, bem como aos governos socialistas e de esquerda no sul da Europa, países africanos e América Latina. Em segundo lugar, oferece uma oportunidade para os países em desenvolvimento de todo o mundo se envolverem mais. Se quisermos explicar a segunda parte, devemos dizer que, de acordo com a visão de confronto dos governos de princípios do Irão, para os países-alvo, como Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e assim por diante. Há uma oportunidade de desenvolver relações com países mais pequenos. Assim, por exemplo Portugal, pela sua trajetória histórica, cultural e comercial com o Irão, pode realizar bons avanços nas interações nas áreas mencionadas. Atendendo às capacidades existentes entre nós, a melhor decisão neste domínio é a prossecução de políticas e entendimentos, e também a constituição de uma comissão denominada Comissão de Acompanhamento das Relações Bilaterais Luso-Persa pelos Governos para alargar as relações comerciais de forma a facilitar a gestão das interações. Dada a sua tendência de crescimento, Portugal pode retomar o comércio privado e o desenvolvimento económico através do Irão, expandindo as suas políticas diversas na região da Ásia Ocidental, especialmente ao longo dos países da Rota da Seda, como nos séculos XVI e XVII. Esta política será uma abordagem independente para ajudar Portugal e o Irão a alcançar um futuro mais brilhante e expandir a cooperação.

Pode-se dizer que a visão do futuro governo iraniano no campo da política externa será uma combinação da desaceleração da era Khatami e do revisionismo de Ahmadinejad, que tenta criar um equilíbrio intermediário para concretizar a visão nacional-regional da República Islâmica do Irão.

Estudante iraniano, doutorando em Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa

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