Portugal-Takuba 2022
As palavras são do ministro da Defesa Nacional (MDN), João Gomes Cravinho: "Portugal irá participar na missão Takuba, inicialmente com um conjunto relativamente pequeno, com 20 militares de forças especiais, mais dois no quartel-general. Veremos se em 2022 é necessário ou não aumentar essa força para estarmos ao nível de outros países", disse à Lusa em Paris, no âmbito das comemorações do 14 de Julho, o 10 de Junho francês.
E, para estar "ao nível de outros países", é preciso perceber qual é o grande jogo no Sahel. E o mesmo é de intelligence, espaço para onde as potências europeias transferem e jogam as suas rivalidades. Não deixa de ser curioso e simbólico, aliás, este anúncio ter sido feito em França. O MDN está sintonizado neste jogo e sabe que para o jogar bem tem de ter homens e mulheres no terreno.
Tendo cerca de 200 anos de atraso em influência neste "mercado regional não tradicional" para franceses, espanhóis e italianos, temos de arrepiar caminho, caso queiramos atingir alguma paridade digna de nota. Tratando-se de área cuja formação leva tempo e de fácil interferência política, as quais geralmente não ajudam à "fruição dos objectivos" a atingir, Portugal poderá optar pelo modelo italiano para a "povoação de África", através de criação, distribuição e controlo de uma miríade de organizações não governamentais (ONG), que canalizam informação do terreno, ajudando assim ao processo de decisão política, com sentido de terreno.
Este "povoamento-relâmpago" também pode passar pela divulgação na Academia portuguesa, que qualquer doutorado com tema africano contemplado no título/dissertação aprovada, ao inscrever-se na Universidade Cheikh Anta Diop, de Dakar, Senegal, ganha um certificado de africanista que lhe permite dar aulas em qualquer universidade africana. Só assim me parece querer construir-se a casa pelos alicerces, promovendo condições para a criação de uma rede de contactos de amantes do estudo das dinâmicas regionais no continente, que sabem que para se ser um verdadeiro especialista em África é preciso saber-se quem casa com quem, quem é cunhado de quem, quem é suserano de quem. E isso só se consegue com terreno.
Outra dificuldade prosaica que faz o investigador português corar de vergonha lá fora e correr o risco da desconfiança é o certificado de habilitações. Vão lá explicar a um senegalês, a um maliano ou a um marroquino, como me aconteceu inúmeras vezes, que um certificado de habilitações substitui o diploma, já que apresenta um resumo do curso em avaliação escrita e média de valores finais, quando ao lado está um bissau-guineense com uma cartolina azul-petróleo, com letras douradas a dizer "Diploma"! O português, nesse momento, assume perante os olhos do colonizado a dimensão do chico-esperto que aparece com um papel e um "31 de boca", que lhe permitiu 500 anos de vantagens. É obviamente falso, o papel, o português, o fato, os factos!
Esta guerra não se ganha com F-16 nem Dassault Rafale, mas com inteligência. E, para tal, há que engajar os mais inteligentes, facilitando-lhes a vida nestas pequenas coisas. Conquistem-nos a libido e depois logo se verá!
Deixo também votos de Eid Moubarak, por mais esta celebração da Grande Peregrinação e do sacrifício do carneiro, que se celebrará na próxima semana, a todos/as.
Politólogo/arabista.
www.maghreb-machrek.pt
Escreve de acordo com a antiga ortografia