Portugal, pólo europeu da refinação de lítio

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Em 2024, c. 60% da refinação mundial de lítio (80% do hidróxido de lítio) era feita na China. A Europa, que depende da importação de metais críticos, arrisca comprometer a sua transição energética se não desenvolver capacidade própria de refinação. Portugal, com reservas relevantes de lítio em rocha (1%~1,4% no norte do país), pode assumir um papel estratégico se fizer as escolhas certas.

A refinação – o processamento de minério em carbonato ou hidróxido de lítio – é o elo mais crítico da cadeia das baterias. Portugal ficou fora do IPCEI das Baterias, por [inepta] decisão política, perdendo os projetos nacionais acesso a ajudas estatais e fundos europeus estratégicos. Ainda assim, há vários projetos nacionais classificados como estratégicos pela Comissão Europeia, ao abrigo do regulamento das matérias primas críticas, dos quais três estão referenciados no mapa europeu da S&P Global: Romano, Estarreja e Aurora. Porém, em 2025, destes só um se mantém com relevância industrial e alinhamento estratégico.

O projeto Aurora (Galp–Northvolt), para Setúbal, foi cancelado por falta de viabilidade. O de Estarreja, inicialmente lançado pela Bondalti com a australiana Neometals, também caiu, embora tenha sido relançado pela Lifthium Energy, com foco na conversão de carbonato de lítio importado em hidróxido – sem qualquer integração a montante, seja na parte da extração do minério, seja nas várias etapas da sua refinação até ao carbonato de lítio; que valor acrescenta este projeto para a criação de uma cadeia de valor europeia? Apenas o projeto Romano, promovido pela Lusorecursos, cobre toda a cadeia: da extração do minério às várias etapas da refinação culminando no hidróxido de lítio, com tecnologia europeia certificada.

Com o concentrado de lítio a rondar os 676 USD/tonelada (menos 80% face ao pico de 2022), os projetos que se limitam a produzir concentrado de lítio enfrentam um risco económico elevado. Por outro lado, os projetos que apenas transformam carbonato de lítio importado em hidróxido não apenas contrariam a estratégia europeia de criação de uma cadeia de valor autónoma, como mantêm a Europa dependente da China. Ao invés, os projetos integrados permitem a criação de capacidade tecnológica europeia, oferecendo maior margem, controlo estratégico e acesso mais fácil a financiamento sustentável.

A queda recente do preço do hidróxido de lítio (~7.800 USD/tonelada) deverá ter uma recuperação gradual a partir de 2026, impulsionada pela mobilidade elétrica e pelo crescimento do armazenamento com baterias estacionárias. Contudo, só quem tiver capacidade industrial instalada e integração na cadeia de valor poderá capturar essa valorização futura.

Portugal deve posicionar-se como pólo europeu da refinação de lítio. Perder esta oportunidade seria repetir erros do passado – num contexto geopolítico ainda mais exigente.

Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

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