Portugal precisa do Mar
Estamos a retomar as estratégias para o desenvolvimento da economia nacional e o governo, muito bem, escolheu o mar como um dos eixos para o desenho futuro da vida do nosso país.
Está neste momento a ser elaborado um trabalho de avaliação do estado das coisas e a serem estudadas as principais medidas que permitam um efetivo aproveitamento deste recurso tão importante e identitário de Portugal, que tivemos a sorte de Deus o ter colocado à nossa janela, como diz Pablo Neruda.
E o governo fez outra coisa que foi muito boa. Envolveu neste trabalho as pessoas mais bem preparadas para o realizar, escolhendo-as pela sua competência e sem qualquer preconceito sobre a sua origem, seja ela pública ou privada.
É sem qualquer dúvida muito importante que se faça uma avaliação da situação de onde partimos e que se ponha em causa o caminho que teremos que percorrer e os obstáculos que teremos que ultrapassar. Só com uma colaboração estreita entre todos os que são conhecedores e que trabalham este tema poderemos encontrar o melhor desenho possível para o sucesso deste desígnio.
Aquilo que se pretende é criar em Portugal um ambiente favorável à atração de investimentos, de operadores, de empresários, portugueses e estrangeiros de forma a estabelecer no nosso país um cluster marítimo que nos permita participar ativamente no desenvolvimento desta economia do mar.
O trabalho está a ser realizado tendo em conta dez atividades diferentes e baseado em oito grupos de trabalho que se dedicam aos diferentes sectores que se encontram na economia do mar.
Mas em todos eles existe uma partilha nos objetivos - entregar a Portugal uma estratégia de desenvolvimento do investimento e aproveitamento do recurso marítimo, atraindo o que melhor se faz e promovendo a cultura do mar no nosso país. Muito se falará de investigação e desenvolvimento, de biotecnologia, de energias renováveis, mas também de transportes marítimos, de pesca e de construção naval. O importante é estabelecer um plano em que todas estas atividades convivam sem que qualquer delas prejudique o melhor crescimento de qualquer das outras.
É com muito gosto e enorme entusiasmo que vejo dar passos no sentido da proposta que nos deixou o saudoso Ernâni Lopes quando há quase 20 anos nos falou do hyper cluster da economia do Mar. Mas é agora também da maior importância que compreendamos que tudo isto não passará de mais um estudo bonito e de um trabalho erudito se não cuidarmos verdadeiramente daquilo que é fundamental à mudança de um paradigma. Portugal é, como bem sabemos, um país que está acomodado e que vê com preocupação a mudança. Arriscava mesmo dizer que temos medo de mudar. Por isso é essencial que façamos bem este caminho que é à partida contrário à nossa maneira de ser e de estar.
Comecemos por formar todos aqueles que estão diretamente ou indiretamente a trabalhar em todos estes sectores para que se apropriem da bondade desta ideia. Não podemos mudar se tivermos funcionários que não compreendem o objetivo desta mudança, que não compreendam a importância desta mudança para a riqueza do nosso país, de cada um dos nossos concidadãos e deles próprios.
Devemos, depois, introduzir em todos os níveis de ensino cadeiras de cultura do mar. É fundamental que as crianças deste país desde cedo compreendam este desígnio para que possamos verdadeiramente transformar o mar num recurso que nos é natural e com o qual convivamos com uma enorme intimidade. Sem isto, por mais que seja correto tudo aquilo que os nossos especialistas da matéria nos trouxerem, apenas ficará um dossier bonito e Portugal a ver navios.
bruno.bobone.dn@gmail.com