Portugal, os jovens e o futuro adiado
Portugal atravessa, silenciosamente, uma das suas mais graves crises sociais e económicas, onde é cada vez mais evidente a incapacidade de garantir aos jovens condições dignas para construírem uma vida no seu próprio País. Esta não é apenas uma crise geracional, é uma crise que ameaça o futuro demográfico, economico e até cultural do país. Hoje, mais do que nunca, os jovens constituem família cada vez mais tarde e a explicação não é difícil de encontrar. Faltam oportunidades, falta habitação, falta estabilidade e falta, sobretudo, um Estado que perceba que o futuro não pode ser adiado eternamente.
O problema da habitação é, porventura, o mais gritante. Encontrar uma casa, seja para comprar ou arrendar, tornou-se uma tarefa impossível para quem está a começar a sua vida. As políticas públicas que deveriam dar resposta a este drama são quase inexistentes ou absolutamente insuficientes. A tão proclamada isenção de IMT para jovens na aquisição da primeira habitação, mais do que uma ajuda concreta, serviu apenas para inflacionar ainda mais os preços. Hoje, os bancos não emprestam sem garantias sólidas, e quem inicia a sua carreira dificilmente reúne as condições exigidas para um crédito. É assim que uma geração inteira se vê condenada a viver em arrendamentos caros, precários e sem futuro. A solução não passa por medidas avulsas. É necessária uma verdadeira responsabilidade pública na criação de habitação a preços controlados, pensada para jovens que trabalham e querem constituir família, permitindo-lhes gerir rendimentos que, todos reconhecemos, são cada vez mais escassos.
No mercado de trabalho, a situação é igualmente desanimadora. Os jovens ganham pouco, trabalham muito e não vislumbram oportunidades de crescimento. Portugal é hoje um dos países europeus com maior desfasamento entre o salário médio nacional e o salário de quem está a entrar no mercado laboral. Enquanto lhes falam de mérito, inovação e futuro, a realidade oferece salários baixos, contratos precários e um país onde, cada vez mais, o talento procura saída além-fronteiras. O chamado IRS Jovem, apesar de ser um passo positivo, é manifestamente insuficiente. É necessário ir mais longe. O CHEGA defende a isenção total de IMT e Imposto do Selo para jovens até aos 40 anos na aquisição da sua primeira habitação. Defende também medidas fiscais concretas e estáveis que aliviem quem trabalha, e políticas que incentivem o empreendedorismo, para que os jovens possam acreditar que é possível construir aqui o seu próprio projeto de vida.
Importa também reforçar a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa na atribuição de habitação pública. A habitação social deve estar reservada a quem dela necessita, mas também a quem contribui e quer criar raízes em Portugal. Não podemos continuar a assistir, passivamente, a atribuições injustas que deixam de fora os jovens que sustentam, todos os meses, este país com o seu trabalho e os seus impostos.
A crise da habitação e do trabalho tem ainda outro agravante: a pressão da imigração descontrolada. Não podemos ignorar que os jovens portugueses têm sido dos mais prejudicados com a chegada massiva de população estrangeira. Em 2024 a média salarial de um imigrante rondava os 600 euros mensais, o que leva muitas empresas a optarem por mão-de-obra barata, em detrimento de apostar em jovens qualificados e formados em Portugal. Isto não é uma opinião, são factos. A pressão sobre o mercado de trabalho, a estagnação salarial e a especulação imobiliária são, em boa parte, consequências desta política descontrolada, que coloca em risco o futuro dos portugueses e, particularmente, dos mais jovens.
Este não é apenas um problema económico. É, sobretudo, um problema de justiça social. Quantos jovens adiam ter filhos porque não têm casa? Quantos não conseguem acesso a crédito porque não reúnem garantias? Quantos olham para o estrangeiro como única saída porque aqui não encontram reconhecimento? Sem juventude, não há futuro. Sem políticas sérias, não há juventude que fique.
Sem famílias novas a criar raízes, não há sistema de pensões que resista, não há crescimento económico, não há País.
A política não pode continuar a ignorar os jovens. Nós continuaremos a levantar este designio, dentro e fora do Parlamento. Não por ideologia, mas por dever. Não por oportunismo, mas por justiça. O futuro constrói-se com quem trabalha, com quem sonha e com quem acredita. É tempo de proteger os jovens, de apoiar quem quer constituir família, de garantir que quem cá está pode, de facto, aqui permanecer e prosperar. É tempo de agir com coragem e responsabilidade.
Porque não há Portugal sem juventude. Não há futuro sem esperança.
Economista e deputado à Assembleia da República