Portugal na Conferência da Monocle
É consensual afirmar-se que o lastro histórico de Portugal nos quatro cantos do planeta constitui um importante ativo na nossa inserção internacional. Ele manifesta-se na nossa capacidade de diálogo, numa abertura à diferença, e no compromisso em encontrar valores e interesses comuns que nos tornam um parceiro fácil com quem colaborar.
Porém, cabe-nos cultivar esta diplomacia para valorizarmos os atributos que marcam a nossa identidade e lugar no mundo.
Foi este o propósito da minha participação na Conferência da Monocle intitulada The Chiefs, ocorrida a 27 e 28 de março em Hong Kong.
O convite da renomada revista deu-se pelo interesse no trabalho diplomático que temos vindo a desenvolver com o Japão, cuja relação de mais de 480 anos tem sido a base para uma revitalização recente nas áreas política, económica e cultural. Mas também resultou do reconhecimento da crescente influência de Portugal no panorama internacional.
O evento reuniu uma elite global de pensadores, líderes e inovadores num fórum exclusivo, partilhando lições sobre o desenvolvimento de negócios robustos e estratégias para o sucesso num mundo cada vez mais complexo.
Permitam-me, caros leitores, que destaque alguns dos temas da minha intervenção, focada nas estratégias do nosso país para acompanhar os rápidos progressos que temos observado no Indo-Pacífico. Desde logo, sublinhei a necessidade de se desenvolver uma ação orientada para o crescimento económico. Esta é uma região em que os negócios ditam o ritmo das relações internacionais. Por essa razão, referi exemplos das nossas empresas que trazem valor acrescentado e produtos diferenciados, assentes na integração entre Estado, setor privado e academia.
Também defendi o enorme potencial que a diplomacia desportiva encerra, juntando parceiros de diferentes áreas para promover o diálogo e aproximação às forças-vivas das sociedades.
Frequentemente aliado à cultura, o desporto é um catalisador de boas-práticas de saúde, bem-estar e sustentabili- dade que se cruzam com as necessidades das empresas e das pessoas.
Foi com esse ensejo que criei a equipa de futebol do Consulado-Geral de Portugal em Macau, que competiu nos Campeonatos Oficiais daquela Região Administrativa Especial, e que em 2020 organizei a Mourinho Diplomatic Cup quando exerci funções no Senegal, ambos exemplos que recolheram o forte interesse da audiência.
O facto de ter sido o primeiro orador português, e, simultaneamente o primeiro embaixador nas três conferências já realizadas, num grupo de oradores proveniente, sobretudo, do setor privado, creio que demonstra as oportunidades para evidenciar a relevância do nosso país no panorama mundial, promovendo a imagem de uma nação inovadora, culturalmente rica e aberta a colaborações internacionais.
Para comprovar o seu caráter eclético e os benefícios de uma “polinização cruzada” entre várias áreas, a conferência também teve um segmento Top of the Shops, dedicado ao papel dos centros comerciais nas metrópoles asiáticas, outro sobre o tema The Road Ahead, que aprofundou os desafios da mobilidade urbana na Ásia, ou ainda Machine Learning, para partilhar a evolução das máquinas de venda automática utilizadas por marcas globais.
Outros painéis, sugestivamente intitulados Building a Brand, What’s Your Vietnam Strategy?, Talking Shop e Tall Stories anteciparam as futuras tendências no comércio e na arquitetura.
Não deixou de contar com a presença nipónica, com a apresentação Staying the Course, de Yuta Oka, sobre o desenvolvimento urbano e hospitalidade no Japão.
Esta III edição, depois de St. Moritz e Dallas, não foi meramente um encontro de talentos globais; foi uma celebração da inovação, liderança e adaptabilidade humana frente aos desafios dos nossos tempos.
Este é mais um relevante fórum em que Portugal marcou presença, dando continuidade àquela nossa forma muito própria de fazer diplomacia.
Próximo passo: trazer a IV Conferência da Monocle para Portugal.