O cérebro ainda é um dos grandes mistérios da ciência. Apesar dos muitos avanços e descobertas, esta fronteira mantém-se tão desafiante quanto relevante nos dias de hoje. Comemora-se a 22 de julho o Dia Mundial do Cérebro, data que foi instituída para chamar a atenção da importância deste órgão e de como é tão central na qualidade de vida das pessoas. Ainda há demasiadas questões em aberto que exigem uma investigação profunda. O que falta não é apenas mais tecnologia, é compreensão integrada. Desde biologia a física, química e fisiologia, passando por ciência de dados e análise de imagens, a Neurociência é um campo vasto e fértil para os corajosos do conhecimento que lá se aventuram. Os neurocientistas devem ser capazes de explorar a ligação entre a realidade biológica do cérebro e as suas funções. Para isso necessitamos da criação de algoritmos que permitiam analisar grandes volumes de dados para simular as funções cerebrais.Foi este conhecimento fundamental sobre os fenómenos biológicos que permitiu o desenvolvimento das redes neuronais artificiais que são a base da Inteligência Artificial Generativa. À medida que vamos descobrindo mais como o cérebro funciona, mais podemos informar os modelos computacionais que tentam replicar essa realidade. Reciprocamente, quanto mais poderosos estes modelos, mais conseguimos explorar os mecanismos do cérebro saudável e doente e avançar na descoberta de tratamentos. A sociedade precisa destas respostas para lidar com dois aspetos críticos da atualidade: o envelhecimento da população, com maior número de doentes neurológicos com doenças degenerativas. Acresce a isto o desafio da saúde mental, que afeta todas as idades, com destaque para ansiedade e perturbações do humor. Estes casos beneficiariam de deteção precoce, ainda difícil, e também muitos poderiam ser mitigados com recurso a inovações neurocientíficas.Estamos na posse de imensos dados gerados por imagens médicas, sensores e aplicações digitais. Esta riqueza de observações precisa de ser analisada para encontrar padrões que nos permitam conhecer o funcionamento saudável e patológico e caminhos terapêuticos. Inovações como interfaces cérebromáquina e mecanismos de “neurofeedback”, em que o utilizador observa e controla a atividade do seu cérebro, eram ficção científica há poucos anos; no entanto, estas tecnologias já deixaram o laboratório e começam a entrar no mercado, dando esperança a pessoas que sofrem de cegueira, de paralisias e outras doenças neurológicas e psiquiátricas.Para responder a estes desafios é urgente preparar neurocientistas que desde o início da sua formação falem a linguagem dos dados, da biologia e das pessoas. Numa era de Inteligência Artificial, o conhecimento sobre os fundamentos da cognição e do comportamento vão ser a chave para um futuro mais saudável e mais brilhante. Coordenador do Licenciatura em Neurociências de Sistemas e Cognitiva Faculdade de Ciências da Saúde e Enfermagem em associação com Católica Medical School Universidade Católica Portuguesa