Porque não foi a Northvolt para as bolsas de valores?

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No descalabro financeiro da Northvolt há um aspeto pouco analisado – porque não procedeu a Northvolt à sua listagem em bolsa(s) de valores?
Existem notícias (em 2022, 2023 e 2024) dando conta da preparação de uma oferta pública inicial em bolsa de valores. Com um volume de encomendas de US$ 55 mil milhões (mM$) e a aposta na empresa por entidades como a VW e a Goldman Sachs, vários analistas estimavam o valor da Northvolt (market cap potencial) em 20+ mM$.

O adiamento da listagem pode ter sido para ir permitindo agregar valor através de sucessivas iniciativas de novas unidades de produção.

Uma das principais dificuldades para montar um processo de listagem em bolsa de valores residiu na baixa produção, muito inferior à capacidade de produção da fábrica na Suécia. Porém, em janeiro de 2024, quando os bancos e financiadores da empresa já tinham conhecimento da sua baixa produção de células elétricas, mesmo assim celebraram com a Northvolt um novo mútuo colocando-lhe à disposição mais 5 mM$ (para “a expansão da produção de cátodo da Northvolt Ett e da fabricação de células” e “a expansão da fábrica de reciclagem adjacente, Revolt Ett”).

Após o cancelamento, em junho de 2024, das encomendas da BMW (no valor de 2 mM$) por atrasos na produção e falta de qualidade do produto – começaram a vir a público dúvidas quanto à aptidão técnica da Northvolt.

Mas o motivo mais perturbador concerne [a garantia] de fornecimento de metais críticos. A oferta de metais críticos como o carbonato de lítio – que provém essencialmente de empresas estatais chinesas – é [praticamente] inexistente nos mercados de futuros para além de 3 meses. Uma due diligence prévia a uma listagem da empresa em bolsa de valores possivelmente mostraria que o seu fornecimento não estava assegurado. A fábrica de reciclagem – Revolt Ett – servia o propósito de justificar a “recuperação de metais de qualidade de bateria com uma pegada de carbono 70% menor do que as matérias-primas extraídas”; e o projeto Aurora Lithium (em parceria com a Galp, em Setúbal) também permitia justificar a diminuição da dependência de fornecedores de metais críticos essenciais.

O adiamento da listagem da empresa em bolsas permitiu que os 2 sócios fundadores fossem vendendo parte da sua equity a valores simpáticos. Já veio a público que P. Carlsson vendeu ações da empresa por 200 milhões em dezembro de 2023; antes dessa data, mais ações terão sido vendidas pelos dois fundadores a entidades que acreditaram no projeto e na aptidão técnica e capacidade tecnológica da Northvolt.

A procissão da Northvolt ainda vai no adro. Mas não parece que venha a ter um desfecho feliz para a cadeia de valor das baterias elétricas na Europa.

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