Por quem os sinos mediáticos não dobram
Segundo dados de várias organizações reputadas - o Global Conflict Tracker do Council on Foreign Relations, o Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED), o Uppsala Conflict Data Program (UCDP), o World Population Review - existem presentemente sérios conflitos armados no mundo, alguns em curso, outros num impasse, com vasto lastro de vítimas e miséria.
Desde as guerras entre a Rússia e a Ucrânia e entre Israel e o Hamas, às guerras civis em Mianmar (34.000 mortos em 2022-2023), no Sudão (13.000 mortos em 2023), na Somália (8000 mortos em 2023), na Etiópia/Tigray (100.000 mortos em 2022-2023), na Rep. Centro-Africana (1300 mortos em 2022-2023), na Líbia, na Síria (6000 mortos em 2023), no Iémen (10.000 mortos em 2022-2023), no Afeganistão (5000 mortos em 2022-2023), a insurreições terroristas na Nigéria (18.000 mortos em 2022-2023), no Mali (9000 mortos em 2022-2023), no Burkina Faso (12.000 mortos em 2022-2023), na R. D. do Congo (10.000 mortos em 2022-2023), nos Camarões (2000 mortos em 2022-2023), no Níger (2000 mortos em 2022-2023), em Moçambique (1200 mortos em 2022-2023), no Iraque (3200 mortos em 2022-2023), a guerras com cartéis de droga no México (14.000 mortos em 2022-2023) e na Colômbia (4000 mortos em 2022-2023) e com gangues criminosos no Haiti (3500 mortos em 2022-2023), a conflitos fronteiriços entre o Afeganistão e o Paquistão (4000 mortos em 2022-2023) ou entre a China e a Índia.
Todavia, nos média e nas redes sociais, praticamente só existem notícias sobre a guerra na Ucrânia e a guerra entre Israel e o Hamas.
Ao invés do que sucede nos EUA - onde os média cobrem os problemas nacionais de um país-continente e pouco mais (onde se inclui Israel) - na Europa há uma série de média (de que o DN é um exemplo) empenhados em efetuar uma boa e abrangente cobertura dos eventos internacionais.
Porém, na maioria dos jornais e canais noticiosos das TV, é bem patente o desinteresse pelos 17,7 milhões de pessoas que a OCHA (estrutura da ONU) estima que enfrentam atualmente fome aguda no Sudão, bem como pelas dezenas - se não centenas - de milhar de mortos na Etiópia/Tigray e pela generalidade das guerras, mortandade e sofrimento em África ou na Ásia.
Como não há curiosidade ou interesse da opinião pública ocidental em relação a estes conflitos, não se enviam jornalistas para os cobrir, destarte perpetuando a quase invisibilidade mediática destes conflitos. Como não há cobertura mediática também não vemos universitários ocidentais a rasgar as vestes por estas causas - ou a mexer uma palha… - nos campus ou em manifestações.
No que tange às redes socais, ensina Diakopoulos que “[tendemos] a agir com base na predisposição psicológica de apenas nos expormos a coisas com as quais concordamos”, o que é facilitado e catalisado pelos algoritmos da Google, da Meta e do X, pelo que nada nos aparece dessas guerras.
A razão pela qual estes imensos conflitos armados, com o seu cortejo de mortos e miséria, não é do conhecimento da larga maioria das pessoas é porque não merecem adequada atenção mediática, e não a têm porque a opinião pública não tem especial curiosidade ou interesse por remotos “países com moscas”.
Por esses milhões de mortos e feridos, refugiados, desalojados, destituídos e esfaimados, os sinos mediáticos não dobram.
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