Por que motivo falamos inglês tão bem?
Dia 23 de abril, assinala-se o Dia Mundial da Língua inglesa, uma data estabelecida pela ONU com o objetivo de destacar a importância do inglês como uma língua global. Portugal é um dos países que mais se destaca na proficiência da língua inglesa, sendo a segunda língua mais falada no país, com 65% dos portugueses a considerar o inglês como a língua mais útil, além da materna, para o seu desenvolvimento pessoal, de acordo com o último Eurobarómetro sobre o multilinguismo. Mas sem proximidade geográfica que o justifique, as razões para o fenómeno são complexas e envolvem fatores culturais, educativos, sociais e linguísticos.
Sabemos que um fator determinante na aprendizagem de uma língua é a exposição à mesma ao longo do tempo, bem como as oportunidades de comunicá-la. Em Portugal, é evidente que essas condições estão reunidas.
Primeiramente, o sistema de ensino privilegia o inglês, desde tenra idade, e de forma consistente ao longo dos anos. O inglês é atualmente uma disciplina obrigatória do 3.º ao 11.º ano, e até há escolas que já incluem o inglês no seu programa a partir do pré-escolar. É preconizada uma abordagem integral que inclui não só o ensino da gramática e vocabulário, mas também o desenvolvimento da compreensão oral e da conversação, que permite que os alunos não só aprendam a teoria, mas também explorem o idioma de uma maneira prática.
Nos últimos anos, a oferta de cursos de inglês, tanto presenciais como online, tem crescido, o que tem permitido aos portugueses de todas as idades melhorar as suas habilidades. Dados do Eurobarómetro indicam que a percentagem de portugueses que, quando questionados sobre o idioma mais útil para as crianças aprenderem no futuro, elegem a língua inglesa é de 89%. Cursos de curta duração, tutoriais na internet e testes de proficiência certificados, como o IELTS, têm incentivado cada vez mais portugueses a dedicarem-se a aprender a língua.
Em anos recentes, observámos também um aumento significativo de escolas portuguesas, públicas e privadas, que oferecem um programa educativo bilingue aos seus alunos. Em muitos casos, as línguas usadas são o português e o inglês. No ensino superior, alguns cursos são lecionados com recursos em inglês. Aprender outras matérias em inglês é visto como uma maneira eficaz de melhorar os níveis da língua, e traz inúmeras vantagens cognitivas e práticas. Programas como o Erasmus+ também permitem que os alunos estudem no estrangeiro, muitas vezes frequentando cursos lecionados em inglês e usando o inglês como língua franca.
Outro aspeto muito importante que ajuda a explicar os elevados níveis de inglês em Portugal é o facto de o inglês estar presente nos conteúdos lúdicos e culturais: filmes, séries, música, videojogos e redes sociais, que permitem uma exposição constante à língua e, muitas vezes direta, sem recurso a legendas. Uma vez que a maioria das produções internacionais não é dobrada faz com que muitos portugueses estejam expostos ao idioma, permitindo um contacto mais próximo com o inglês, e as suas expressões idiomáticas, o que melhora a compreensão auditiva e pronúncia, fatores que ajudam a explicar a boa dicção dos portugueses.
Outro tópico que importa realçar é o aumento do turismo e a sua preponderância no país, não só pelo facto de o Reino Unido ser o principal país emissor de turistas em Portugal, representando 2,5 milhões de pessoas, de acordo com o Turismo de Portugal, mas porque a língua inglesa continua a ser considerada a língua franca, e uma competência essencial para comunicar.
A par do turismo, a imigração também trouxe a Portugal falantes de outras línguas. O inglês é comumente usado como meio de comunicação entre os novos residentes e os portugueses, tal como se vemos nas escolas, nos locais de trabalho e no dia-a-dia.
Para além destas influências socioculturais, há características linguísticas que ajudam os portugueses a tornarem-se bons falantes de inglês. Apesar de o inglês ser uma língua germânica, tem uma forte influência do latim, o que significa que muitas palavras são semelhantes em inglês e português. Ambas as línguas partilham o mesmo alfabeto e seguem a mesma sintaxe básica e ordem de palavras. Quanto à fonologia, não obstante algumas diferenças particularmente nos sons das vogais, estas não interferem na comunicação. Tal como o inglês, o português europeu também é um idioma de ritmo acentual, o que ajuda os portugueses a soar mais natural quando falam inglês.
A combinação destes e outros fatores contribui para que a maioria dos portugueses tenha um bom domínio do inglês, o que coloca Portugal numa posição de destaque no que diz respeito à proficiência de línguas estrangeiras.
Diretora Académica do British Council em Portugal e Coordenadora do Programa Escolas Bilingues em Inglês, em parceria com a Direção-Geral de Educação, Ministério da Educação e Ciência.
A pesquisa que sustenta este artigo teve com o contributo de Se Tucker, Senior Teacher do British Council Porto.