Populismo pode promover a inovação das elites

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Muito ouvimos falar de populismo político e de como os novos políticos que estão a ganhar votos são “populistas”, ou seja, são populares. Ser popular significa que se é conhecido por muitos, pelo povo.

Segundo alguns autores o líder populista representa a voz do povo e os interesses dos cidadãos contra a “elite corrupta”, ou seja, representa a voz contra o sistema existente e que foi desenvolvido ao longo de anos pelas elites.

Para captar mais apoiantes, o líder populista alia-se às causas das massas e, por isso, tende a excluir do seu discurso o apoio às minorias, o apoio às novas causas e novos pensamentos.

Um líder populista é aquele que fala apenas do presente e em resolver os problemas do hoje, considerando que pensar o futuro não é assim tão relevante, até porque a população apenas quer melhorar a situação de vida do seu presente. É também conservador, pois dessa forma consegue mais apoio pelas massas.

Não esquecer que o ser humano é, na sua grande maioria, avesso à mudança e, por isso, uma linguagem baseada nos temas presentes “soa muito melhor aos ouvidos da população”, do que um discurso sobre os desafios do futuro e como é que o país se deve posicionar nesse futuro.

Assim, uma das características dos políticos populistas poderá ser não terem grande pensamento sobre o futuro e não serem inclusivos. Na sua abordagem de “serem populares”, constatam que falar do futuro, de minorias de temas emergentes, não atrai uma massa de apoiantes. E por isso não tocam nesses assuntos, e até reforçam a sua não-importância.

Ora, sem pensamento futuro e estratégico, e sem incluir as minorias que suportam um sistema social de paz, obviamente que nenhum país consegue evoluir.

Sem esta evolução a economia estanca, a sociedade fragmenta-se e as consequências serão sentidas pelos filhos daqueles que, hoje, não querem pensar no futuro. Com este racional de base, podemos chegar à conclusão de que os políticos populistas não são os melhores para zelar pelo bem estará dos nossos filhos, que são o futuro.

Mas, se ser um líder populista é ser um líder que é conhecido e acarinhado pelo povo, por que é que ainda só existem líderes populistas que apelam à fragmentação da sociedade e ao imediatismo da vida? Não me parece justo assumir que o povo queira conflitos e um mau futuro para os seus familiares.

Parece-me a mim, que o povo está saturado da linguagem da elite e dos líderes da elite. Parece-me a mim que o povo vota nos populistas existentes, porque estes colocam em causa o “politicamente correto”, são entusiasmados e efusivos nos seus discursos, mostram-se como sendo “semelhantes a mim”, fazem erros e assumem-nos, transmitindo um sentido de “serem humanos”.

O populismo pode ser, de facto, uma oportunidade para a elite inovar, ou para outra elite ter a coragem de emergir. O povo não vota nos populistas extremistas por querer conflitos e mau profissionalismo no Parlamento. O povo já não quer é votar nos líderes plásticos, de cera, que dizem frases feitas, sem alma e sem genuíno entusiasmo e sentido de missão.

Talvez seja uma enorme oportunidade para outra elite surgir: mais direta, mais humana e emotiva, mas com visão e preocupação pelo futuro, e com capacidade de apoiar as massas de hoje a evoluírem para o amanhã.

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