Perplexidades
De hoje a pouco mais de uma semana os portugueses vão votar para escolher, entre várias possíveis, uma visão para Portugal.
Se assim não é, deveria sê-lo.
Já vivemos tempos mais calmos, mais previsíveis e, por isso, também menos desafiantes.
O mundo complexizou-se. As relações entre os países parecem estar a voltar ao primado da força e à consagração do direito de conquista e de ocupação.
Onde até agora se discutiam princípios e valores, parece que a prioridade passou a ser o comércio, não o comércio na perspetiva transacional a que nos habituámos, mas numa despudorada regressão ao direito do mais forte a saquear. Só que, desta vez, o direito é exercido antes da conquista. Ou será que a conquista já aconteceu, ainda que por interposto saqueador?
Em pouco tempo diálogos que considerávamos impossíveis tornam-se efetivos; o multilateralismo que nos caracteriza desde o pós-guerra caminha para um limbo. Exemplos gritantes desta nova realidade é a paralisia da OMC ou o torpor das Nações Unidas.
Parece que para os países mais poderosos a atividade diplomática se reconduz a transações sem regras, nem princípios. Parece haver mesmo uma regra de “trocar dinheiro por direitos” se quer impor.
É num mundo perigoso, diverso e que parece estar no dealbar de uma nova era que somos chamados a optar.
A complexidade da situação levar-nos-ia a pensar que propostas desafiadoras, impactantes e tão disruptivas como os tempos que vivemos invadiriam o espaço público.
E é aqui que surge a minha perplexidade.
Há uma semana, ao comprar, como sempre faço, os semanários que se publicam em Portugal só encontrei passado e, perdoem-me, o mais irrelevante desse passado.
Desde as requentadas notícias de um Porsche, a comportamentos desviantes na campanha eleitoral de 2019, a atividades profissionais relatadas em modelo de folhetim, ou ao trazer para a luz do dia, a propósito do “apagão” a atividade dos serviços de informações e, claro, o próprio apagão. Não o relevante porquê do apagão, antes as suas consequências imediatas.
E, claro, o relato do “serão para trabalhadores” que, numa reprise a roçar a profanação das instituições, ocorreu na Rua da Imprensa, à Estrela.
Talvez seja o tempo de olhar para o futuro, dizer como o queremos e com quem, e com que regras, cada um está disposto a construí-lo.
Sem populismos gratuitos, sem bravatas e fazendo funcionar as instituições. E, não nos esqueçamos, os partidos políticos são instituições essenciais para produzir pensamento político e propostas de politicas públicas.
Até há uma semana, e a duas semanas das eleições, não tinham conseguido que os principais semanários portugueses se interessassem pelas suas propostas.
Perplexidade? Talvez não.
Advogado e gestor