Peregrinos da esperança
Começa hoje o conclave, num ano jubilar dedicado à esperança. Uma palavra que encerra em si todo um mundo. Que dá força e pode ajudar a atingir impossíveis. Isto está muito na base do mundo católico. Poderá dizer-se que a conjugação de determinados factos (o falecimento do Papa, a conjuntura internacional, a incerteza dos tempos) reforçam os sentimentos de fé e esperança de aqueles que têm na Igreja o seu farol espiritual. Sob este mesmo tema, Lourdes recebeu no passado fim-de-semana mais de 7200 pessoas. Obviamente de várias cores políticas, países, línguas distintas, unidas em oração, fé e em intenções pessoais, mas também universais. Para os que acreditam, a força que estes momentos consagram permite ultrapassar as agruras e os infortúnios quotidianos. Para os outros, poderá ser difícil de entender o alcance que o poder da fé proporciona. Presenciei parte da acção dessa fé. E, à pergunta a um dos peregrinos doentes do que sentia quando estava ali, a resposta ajudou a vislumbrar o contacto do maravilhoso: “Estou a viver um sonho que nunca sonhei, que não poderia ter sonhado, que não pensei ser possível.” Simples.
Por vezes, estamos tão embrenhados nas intrigas políticas, nos ardis de campanha, nas estratégias de comunicação – principalmente em tempo de eleições – e tão focados nas trivialidades básicas dos jogos de espelhos do quotidiano que nem sempre percebemos o que grande parte das populações precisa. O que a Humanidade necessita para continuar. O marxismo, rotulando a religião como ópio do povo e o republicanismo exaltado pelo “horror” aos recentes dias de luto pelo Papa não entendem é que não se pode retirar a dimensão espiritual das pessoas para substituí-la pelos deuses políticos. A César o que é de César, a Deus o que é de Deus. Sem imiscuir, mas respeitar as diferentes missões. Há quem tenha esperança de estabilidade política em Portugal; há outros que, para além desta, necessitam igualmente de outra dimensão. E, numa semana tão importante – conclave, Fátima, campanha eleitoral – ignorar isso pode ser um grande erro.
Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS).
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico