Pequenas empresas disruptivas e refinação do lítio

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Uma das áreas em que se pode observar que a "inovação disruptiva" é criada não por empresas grandes, mas por pequenas empresas disruptivas é precisamente na cadeia de valor do armazenamento de energia verde com base no lítio.

O know-how do processamento químico (entre nós popularizado por "refinação") do lítio é atualmente dominado por empresas estatais chinesas e a UE quer ter autonomia também nesta etapa. Apenas existem 2 empresas no mundo ocidental com unidades-piloto certificadas relativamente ao processo de refinação do lítio - a Nemaska Lithium Inc (canadiana) e a Outotec Oyj (finlandesa); a Hatch Africa (PTY) Ltd, da África do Sul, tem também conhecimento bastante neste domínio; nenhuma delas começou por ser uma grande empresa.

A primeira empresa europeia a iniciar uma refinaria de lítio na UE - a Keliber Oy - recorreu à Outotec e à Hatch para demonstrar adequada capacidade tecnológica; não era nem é uma grande empresa.

No domínio da produção de cátodos e ânodos e de células elétricas há uma plêiade de pequenas empresas europeias, sobretudo do centro da UE, procurando demonstrar conceitos e melhorar a qualidade e competitividade dos seus produtos.

E a empresa que iniciou a mais ambiciosa montadora de baterias na UE - a Northvolt AB - começou como uma start up na Suécia, em 2016.

Todas estas empresas tiveram e têm o apoio dos respetivos governos. A Keliber contou com o apoio do governo finlandês, a Northvolt com o apoio do governo sueco, etc. Como é normal que suceda.

Em Portugal a equivalente da Keliber é a Lusorecursos - a única empresa que assumiu contratualmente com o Estado Português a obrigação de fazer uma refinaria de hidróxido de lítio, tendo apresentado um projeto inovador e altamente profissional, com parcerias com entidades que permitem efetuar adequada demonstração de capacidade técnica e tecnológica (Outotec e Hatch), da fase da mineração à fase da criação de um complexo industrial de refinação, com investidores e financiadores empenhados no financiamento de um projeto superior a 500M€, e criação de centenas de empregos qualificados em Montalegre, com recurso mineral para operar uma refinaria de hidróxido de lítio durante pelo menos 22 anos (com base nas reservas atuais) e com elevado sentido de responsabilidade social. Quem analisa seriamente projetos sabe disso. Por isso a Northvolt propôs à Lusorecursos uma parceria para criação de uma empresa conjunta de refinação (não era para qualquer contrato de fornecimento de concentrado, versão propalada por especialistas de narrativas falsas para justificar as vantagens que pretendem atribuir a uma conhecida energética nacional desprovida de qualquer aptidão técnica); é quando se está no meio desse processo negocial que alguém no governo manda chamar a Northvolt a Portugal para reuniões com membros do governo português, após o que esta empresa sueca interrompe as negociações - por si iniciadas - com a Lusorecursos. É essencial que a verdade seja apurada, que se perceba o que o ministro do Ambiente disse à Northvolt e o seu papel na promoção de uma parceria entre esta e a Galp.

O que é profundamente triste em tudo isto é que, em bom rigor, há espaço em Portugal para 2 refinarias; mas o espírito servil - ou outras razões - faz dobrar a espinha a quem devia servir apenas o interesse público.

Consultor financeiro e business developer
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