Os vendedores de sonhos e a ilusão do worklife balance
Numa era de promessas fáceis e de ilusões confortáveis, de redes sociais que variam entre o cor-de-rosa e o amor e o obscurantismo e o ódio extremado, sabe-se lá porquê, os gurus da autoajuda não se cansam de vender a ideia de que é possível equilibrar perfeitamente a vida pessoal e profissional enquanto se alcança o topo das nossas carreiras. Desconstruamos esta falácia com a clareza necessária para que as verdades inconvenientes venham ao cimo. Tenho lutado contra isso explicando-o aos meus alunos e muito, muito mesmo, aos meus filhos.
A verdade crua e sem pó de arroz é que o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho é uma miragem para aqueles que aspiram a grandes conquistas profissionais. Não há fórmulas mágicas ou truques de produtividade que possam transformar um dia de 24 horas em algo mais do que isso. A realidade é que, para chegar mais longe no trabalho, é necessário fazer sacrifícios significativos na vida pessoal.
Primeiro, é importante entender que o sucesso profissional requer uma dedicação total. A concorrência é feroz e o mercado não perdoa a mediocridade. Para estar entre os melhores, é preciso estar disposto a trabalhar mais horas, a sacrificar fins de semana, a perder momentos importantes com a família e amigos. O sucesso não é gratuito; é o resultado de um esforço contínuo e incansável. Quem promete o contrário está a vender uma fantasia. A sorte, essa, dá sempre muito trabalho.
Segundo, a tecnologia, que deveria ser nossa aliada, frequentemente transforma-se em nossa maior inimiga. A conectividade constante aprisiona-nos a ciclos viciosos de trabalho ininterrupto. Emails, mensagens e reuniões virtuais invadem os nossos espaços mais íntimos, tornando-se impossível desligar verdadeiramente quando tal é necessário (nem sempre o é). A promessa de flexibilidade transforma-se numa armadilha que nos mantém eternamente disponíveis e constantemente pressionados.
Terceiro, a pressão social para mostrar uma vida perfeitamente equilibrada nas redes sociais acrescenta uma camada de stress totalmente desnecessária. A comparação constante com os outros, que parecem gerir tudo com facilidade, é uma ilusão cuidadosamente construída. Ninguém publica as noites em claro, os momentos de exaustão ou fracassos sucessivos. Que seria! A verdade é que todos aqueles que alcançaram grandes sucessos profissionais têm cicatrizes profundas que raramente são visíveis.
Por último, é fundamental aceitar que a vida é feita de escolhas e cada escolha traz consigo renúncias. Optar por uma carreira de sucesso (seja isso o que for) implica, inevitavelmente, renunciar a certas áreas da vida pessoal. E está tudo bem com isso. É uma decisão consciente que deve ser feita com olhos bem abertos, sabendo que não há caminho sem custos.
Ou seja, o mito do equilíbrio entre vida pessoal e trabalho para quem ambiciona altos voos profissionais é, nada mais nada menos, que uma quimera. É uma ideia vendida para tranquilizar consciências e alimentar uma falsa sensação de controlo. Para aqueles que realmente querem chegar mais longe, a verdade é simples e corrosiva: é preciso escolher. E essa escolha implica sacrifícios, renúncias e uma dedicação que poucos estão dispostos a aceitar. O equilíbrio é, na realidade, um luxo reservado para aqueles que não ambicionam mais. Para os outros, para os que realmente querem fazer a diferença, o caminho é árduo, exigente e implacável. E não há mal nenhum nisso. Apenas é preciso estar preparado para a verdade nua e crua, sem subterfúgios nem ilusões.
All in all, o sucesso no trabalho é uma escolha que custa caro. Aceitá-lo é o primeiro passo para realmente entender o que significa alcançar e vencer etapas. E essa é a verdade que precisa ser ouvida, lida e, acima de tudo, vivida. O resto é, como dizem os brasileiros e bem, conversa para boi dormir.