Os Sebastianistas
Ainda não formalizou a sua candidatura – diz-se que o fará ainda este mês – mas o Almirante Gouveia e Melo já está a ser atacado por um candidato formal – Marques Mendes – e um que antes de o ser, já o era: António José Seguro. Desde que o seu nome começou a ser mencionado como provável candidato, Gouveia e Melo já convenceu as sondagens de que era uma espécie de D. Sebastião, não vindo num cavalo branco, mas de um barco no meio do nevoeiro. Desde há muito que pensadores e filósofos portugueses – Teixeira de Pascoaes, Agostinho da Silva, Miguel Real, entre tantos outros – têm desenvolvido toda a teorização que, intrinsecamente, nós portugueses temos este mito geneticamente infiltrado no âmago do nosso ser, como povo. E porque é importante perceber isso, principalmente, para os candidatos ou pseudo-candidatos às eleições presidenciais? Para perceberem que, não é por falar mal e atacar D. Sebastião, que o povo vai deixar de gostar dele e almejá-lo. Nem Gouveia e Melo ainda aceitou entrar na corrida, já lhe atiram com ataques que, para os eleitores, não querem dizer nada. O povo, por um lado, está cansado do modelo de, semanalmente, lhe dizerem o que devem pensar; por outro, desconfiam de alguém que nem no seu próprio partido tem consenso e lhe querem tirar o tapete a toda a hora. E acham que, atacando o almirante, convencem o povo a não votar nele?
Os portugueses têm tendência para simpatizar com candidatos que fazem a sua campanha, falam dos nossos problemas e apresentam soluções, sem deitar abaixo os adversários. De maledicência cansativa já estamos saturados. E daquela que vem ainda antes do tempo só faz com que se catapulte o, ainda não-candidato-assumido, na simpatia dos eleitores. Gouveia e Melo tem uma aura de Deus ex-machina: ele aparece e tudo fica como deve ficar. Deve-a ao facto de ter cumprido o que lhe foi ordenado durante o caos da pandemia. E, no meio desse caos, ele mostrou ser um farol. Após tantos anos de um presidente popularucho e um pouco caótico, alguém com um passado de dever cumprido é tudo o que grande parte dos portugueses acha que precisa. Menos palavras, mais actos comprovados de eficácia. E contra isto, há poucos argumentos.
Infelizmente para os outros candidatos, vai ser difícil arranjar palavras que deitem abaixo actos de sucesso. Talvez seja mais avisado comporem um discurso constructivo para eles próprios, do que denegrirem outros. Os sebastianistas, mesmo sabendo que D. Sebastião levou Portugal para o precipício em Alcácer Quibir, têm tendência para sentirem saudades dele. Agora imaginem se há um D. Sebastião que, ainda por cima, foi vencedor? Um líder foca-se no seu projecto, não em atacar os alheios. Como diria Pessoa: “Segue o teu destino, rega as tuas plantas, ama as tuas rosas. O resto é a sombra de árvores alheias”.