Antes de prosseguir, fica explícita uma declaração de interesses: tenho uma ligação à Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Visual, vínculo esse que não impede, antes pelo contrário, de manter uma posição coerente sobre o tema em epígrafe..Ao quarto dia de competições paralímpicas, são já três as medalhas conquistadas pelos atletas portugueses. Miguel Monteiro e Cristina Gonçalves conseguiram o ouro olímpico no arremesso do peso e no boccia BC2, respetivamente. Diogo Cancela conquistou o bronze nos 200 metros estilos. Até ao momento, este é o saldo da comitiva portuguesa composta por 27 atletas, de 10 modalidades..Merecedor de destaque são também os quatro diplomas arrecadados por portugueses, a saber: torneio de singulares de badminton, por Beatriz Monteiro; torneio de Boccia BC1, por André Ramos; prova 100 metros costas S11 de natação, por Marco Menezes, e prova de R5 carabina de ar comprimidoSH2, por Margarida Lapa..Os números atuais já superaram a participação nas olimpíadas de Tóquio 2020, onde Portugal arrecadou apenas duas medalhas de bronze. Independentemente dos resultados obtidos até ao momento, e daqueles que ainda podem vir a ser alcançados até ao final dos jogos, tal como os atletas que estiveram em Paris no final de julho, todos merecem reconhecimento..São bem conhecidas as adversidades com que os nossos desportistas vivem, no geral, e mesmo dessa forma lutam arduamente pela autossuperação. Os apoios ao desporto configuram-se como uma problemática conjuntural com décadas. E por muito que se tenha evoluído no suporte aos atletas olímpicos e paralímpicos, a realidade demonstra que está longe de suprir as necessidades..Competir nos grandes palcos mundiais, com atletas e países que têm orçamentos dezenas ou centenas de vezes superiores aos de Portugal, requer mais do que uma vontade brutal pela autossuperação. É o princípio da equidade que está em clara violação. Trata-se de esquemas de treino altamente inovadores, com condições de vida pessoal e profissional das quais os nossos atletas apenas ouviram falar..Com estes reparos, não significa que não haja quem esteja em condições menos favoráveis do que as nossas, mas nivelar por baixo, sobretudo na competição desportiva, não será por certo a melhor solução..Uma das soluções passa certamente pela posição das instituições, que devem ter clara a importância de apoiar efetivamente o desporto, leia-se, todo o desporto e não apenas o futebol. Parece básico, mas facto é que, após serem conquistadas três medalhas olímpicas, haverá diários desportivos que não considerarão o feito merecedor de uma chamada de capa..O futebol vende mais jornais, mas esse não é o caminho se o objetivo for ter um país mais plural, inclusivo e solidário. Afinal de contas, os resultados falam por si.