Os pais de antigamente e o pai de hoje

Aproxima-se o Dia do Pai, pensado especialmente para celebrar o seu papel. E apesar de sabermos que, num mundo de enorme diversidade familiar, cabem muitas situações em que as crianças não têm pai ou não convivem com este, dedicamos a reflexão de hoje ao pai de antigamente e ao pai de hoje.

O pai de antigamente e o pai de hoje são ambos pais. Claro que sim. Mas em épocas e mundos muito diferentes, pautados por outras práticas e valores. O sentimento de um pai por um filho não muda em função da década em que se vive, mas a forma como se expressa aquilo que se sente tem mudado de forma muito significativa ao longo dos anos.

O pai de antigamente não mudava fraldas, não dava banho, nem ia às reuniões da escola. Assumia um papel de ganha-pão da família, definia regras e delegava na mulher os cuidados aos filhos. Por sua vez, a mulher/mãe cuidava da casa e dos filhos e raramente trabalhava fora de casa. Quando trabalhava, ocupava necessariamente cargos menores e pior remunerados, desempenhando um papel principal apenas na esfera privada.

"Em mais um dia dedicado ao pai, acabemos de vez com a distinção que ainda é feita em função do género dos pais e com a ideia absolutamente arcaica de que a mãe é uma figura mais importante do que o pai. As crianças precisam do envolvimento ativo de ambos os pais."

Mas, como me dizia recentemente um pai, "os tempos são outros e a mãe da minha filha não cuida dela melhor do que eu". Os pais de hoje são mais presentes e procuram exercer um papel ativo que lhes permita um maior envolvimento parental. Seja na prestação dos cuidados básicos ou nas rotinas diárias, no lazer ou no processo educativo, desejam ser parte integrante da vida dos filhos, acompanhando-os ao longo de todo o seu desenvolvimento. Recusam, por isso, ser relegados para um papel secundário de pai-fim-de-semana, pai-visita ou pai-carteira. Em paralelo, também as mulheres/mães se recusam ao confinamento no espaço doméstico e lutam por um papel igualmente principal na esfera pública.

Assistimos, assim, a mudanças sociais e familiares muito significativas que exigem outro olhar sobre o papel da mãe e o papel do pai. No entanto, e apesar de toda a evidência científica de que dispomos, os pais/homens continuam ainda a ser vistos em alguns contextos como atores secundários na vida dos filhos. Continuamos, por exemplo, a ouvir falar na "figura primária de referência da criança" como sendo necessariamente a mãe, a quem a criança se vincula ainda durante a gravidez. Ora, a vinculação é um forte laço afetivo que se estabelece durante o primeiro ano de vida e que liga a criança a um número reduzido de figuras estáveis em diferentes contextos. São relações co-construídas que procuram garantir a sobrevivência, a proteção e a segurança. As crianças não nascem vinculadas. Esta relação vai-se construindo ao longo do tempo, precisando, para tal, de figuras cuidadoras presentes e sensíveis que consigam perceber e satisfazer todas as suas necessidades. Na maioria das situações, ambos os pais são figuras de referência afetiva da criança.

Em mais um dia dedicado ao pai, acabemos de vez com a distinção que ainda é feita em função do género dos pais e com a ideia absolutamente arcaica de que a mãe é uma figura mais importante do que o pai. As crianças precisam do envolvimento ativo de ambos os pais.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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