Os nossos filhos estão mais seguros fechados no quarto?
A explosão das redes sociais e da comunicação digital trouxe consigo uma das mais cruéis formas de violência e intimidação: o bullying virtual. Esta prática nefasta não se limita apenas a palavras cruéis e ameaças. Estende os seus tentáculos à saúde mental, podendo levar as vítimas a desfechos trágicos, empurradas por uma sensação de desamparo. O seu impacto devastador vai muito além do mundo digital. Infiltra-se na vida quotidiana das vítimas de maneiras inimagináveis. Insultos constantes, difamação, disseminação de boatos e o isolamento social resultante destes comportamentos cobardes e, muitas vezes, perpetuados em manada, podem desencadear uma espiral de desespero que, em casos extremos, culmina em pensamentos e até em ações autodestrutivas. Comentários maldosos que se materializam em humilhações públicas, pois são lidas e visualizadas por centenas ou milhares de pessoas, criam um ambiente tóxico que mina a autoestima dos alvos.
A gravidade do bullying virtual é amplificada pela sua natureza impiedosa. As vítimas ficam acossadas num ambiente onde o agressor, valente apenas atrás do teclado, tem uma sensação de impunidade que lhe é dada pelo suposto anonimato, já que, na verdade, através o IP do dispositivo que está a usar como arma, pode ser facilmente identificado, após queixa às autoridades numa esquadra da PSP ou GNR. Educarmo-nos a todos sobre a importância de seremos tão empáticos nas redes sociais como nas interações ‘ao vivo e a cores’ é crucial. O bullying virtual não é apenas um fenómeno digital. É um problema sério e que exige ação. Só através de uma tomada de consciência e de mais legislação sobre o tema, e celeridade da investigação policial e dos processos judiciais, podemos reduzir o impacto devastador desta epidemia dos tempos modernos.
A sua natureza impiedosa é agravada pelo alcance. Os comentários ofensivos podem ser reproduzidos e partilhados indefinidamente, perpetuando por tempos sem fim o tormento. O isolamento social decorrente do bullying virtual, autoimposto como mecanismo de defesa,tem consequências visíveis. A retirada do convívio social, a perda de interesse em atividades antes ‘gostadas', e o medo constante de que surjam novos ataques, contribuem para uma sensação avassaladora de solidão e inquietude. Esse isolamento afeta ainda o desempenho académico e profissional dos perseguidos.
Esta é uma realidade dolorosa e não... a solução não é “não ligar” ou “sair das redes sociais”, uma vez que a nossa liberdade não pode ser condicionada pelo ódio alheio. A solução passa, em vez disso, por promover uma cultura digital de respeito, empatia e responsabilidade. Só assim se poderá reverter esta nefasta tendência e criar um ambiente online mais saudável.
Num mundo cada vez mais digital, a ideia de que os nossos filhos estão mais seguros nos seus quartos, ligados à internet, em vez de estarem a brincar na rua, na praceta ou na escada do prédio com os vizinhos, é um equívoco. Os perigos online apresentam desafios igualmente grandes, se não ainda maiores, do que aqueles que podem ser encontrados fora de casa.
A falsa sensação de segurança que sentimos ao vê-los quietos, hipnotizados por ecrãs, faz-nos esquecer os riscos inerentes ao ambiente online. O ciberespaço, apesar de oferecer oportunidades de entretenimento, é terreno fértil para o cyberbullying e predadores virtuais. A ausência física dos pais durante o tempo online cria uma lacuna na supervisão que torna os nossos filhos vulneráveis a ameaças.
Por outro lado, é preciso ter presente que brincar na rua, atualmente considerado perigoso, é necessário para o desenvolvimento social e físico. A interação cara-a- cara, o exercício físico, o aprenderem a “desenrascar-se” e a serem independentes, são elementos essenciais negligenciados quando as crianças estão demasiado tempo confinadas ao interior e ao virtual. Andar na rua proporciona um espaço para a exploração, a construção de relacionamentos e o desenvolvimento de capacidades que serão úteis na vida adulta.
No entanto, não estamos frente a uma escolha entre o mundo virtual e o físico, mas sim perante o desafio de encontrar o equilíbrio entre a conectividade digital e as experiências ao ar livre. Só assim podemos promover um desenvolvimento saudável a quem ainda está a crescer.