Os dilemas do governo eletrónico para o desenvolvimento do Interior

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O desenvolvimento do Interior de Portugal enfrenta grandes dilemas, entre a necessidade de garantir o atendimento de proximidade a uma população envelhecida, ao mesmo tempo que se pretende promover a inovação tecnológica para atrair novos residentes, incluindo os imigrantes.

Portugal envelhece, mas vive um paradoxo demográfico. As aldeias perdem jovens para as cidades ou para o estrangeiro, mas há uma chegada crescente de imigrantes, que trazem novas formas de pensar e trabalhar.

Como conciliar os serviços tecnológicos avançados que os mais jovens desejam com a necessidade de atendimento presencial para uma população idosa e com poucas competências digitais?

A solução pode estar num equilíbrio entre os serviços públicos digitais e o contacto humano, fortalecendo os espaços de atendimento presencial a nível das freguesias, através de mais mediadores de serviços digitais, em Espaços do Cidadão, capazes de prestar apoio acessível e de grande impacto social.

Com a expansão da fibra ótica e do 5G, surgem novas oportunidades para empresas tecnológicas, que podem atrair empregos qualificados e novas dinâmicas, incluindo jovens imigrantes com competências digitais.

As projeções demográficas faziam prever a redução da população, mas os políticos esqueceram-se da pressão migratória. Infelizmente assistimos nos últimos anos ao encerramento de inúmeros serviços públicos no interior do país, o que agravou o despovoamento, em contraciclo com a necessidade de integração de novos residentes, que requerem serviços de qualidade para prosperar fora dos grandes centros urbanos.

O governo eletrónico pode acelerar os processos, mas o atendimento de proximidade continua a ser vital numa população envelhecida, especialmente em áreas como a Saúde e o Apoio Social. A imigração, bem gerida, pode ser um catalisador positivo, para revitalizar as comunidades, trazendo diversidade cultural e profissionais que podem preencher lacunas em serviços de proximidade.

A tecnologia deve dinamizar a economia e combater o despovoamento, sem negligenciar a importância da presença humana, como tem acontecido nalguns casos de sucesso de integração de imigrantes, como já acontece hoje no Concelho do Fundão.

O aumento de assistentes virtuais e de bots no atendimento não é a solução para os mais idosos, pois pode agravar a solidão. O governo eletrónico deve trazer consigo não apenas a desmaterialização de processos, mas também a desintermediação de funcionários e cidadãos em procedimentos inúteis.

O desafio passa por fazer com que as inovações unam, em vez de afastar as gerações e as culturas. A resolução destes dilemas é complexa, mas uma abordagem inclusiva pode transformar o interior num exemplo de convivência entre tradição e modernidade.

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