Os desmaios da nossa vida 

Devemos estar alerta em relação aos desmaios e nunca os desvalorizar. São comuns e temos hoje condições de excelência para tratamentos bem-sucedidos. Em caso de dúvida, consulte um especialista.
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A síncope, mais conhecida como desmaio, é medicamente definida como a perda súbita e de curta duração da consciência, com uma perda da postura devido à diminuição rápida e transitória da irrigação sanguínea para o cérebro. É uma situação caracterizada por ter rápida recuperação, espontânea e total.

Embora de início repentino, tem frequentemente sinais ou sintomas de “aviso” (premonitórios) – como as náuseas, os suores, o calor ou o frio, palpitações, com o coração a bater forte e rápido, ou uma visão turva. Esta definição exclui outras situações de alteração do conhecimento, como a epilepsia, as doenças degenerativas neurológicas, as alterações psíquicas ou o coma.

Embora possa ser esporádica, nalguns casos a síncope ocorre de forma recorrente, tendo um impacto negativo na qualidade de vida, do doente e da família, com limitações da vida quotidiana. Por vezes, provoca traumatismos, devido a quedas, e, raramente, pode levar à morte súbita, quando resultante de doença cardíaca grave, como a existência de anomalias estruturais do coração e insuficiência cardíaca, ou, em casos menos frequentes, de doenças elétricas hereditárias.

A causa mais comum é conhecida por neurocardiogénica ou vaso-vagal, sendo mais frequente no sexo feminino, com dois picos de aparecimento: na adolescência e em adultos jovens. É um evento relativamente comum - costuma dizer-se que já toda a gente desmaiou uma vez na vida -, estimando-se que uma em cada quatro pessoas terá uma ou mais síncopes ao longo da vida.

A síncope é responsável por cerca de 3% das urgências hospitalares. Muitas vezes, mesmo na urgência, é feita uma avaliação clínica com exames complementares, podendo haver a sugestão de que se trata de ansiedade ou crises de pânico. Isto pode criar mais angústia e insegurança nos que desmaiam, sobretudo se de forma recorrente. Nestas situações, em que no estudo inicial não se encontra uma causa, falamos de síncope de causa desconhecida.

A referenciação dos doentes para a Cardiologia, ou para as chamadas Unidades de Síncope, com equipas totalmente dedicadas à investigação do diagnóstico e a diferentes formas de tratamento, de acordo com a causa que se venha a definir, é fundamental. Em particular, na presença de presumível causa cardíaca, esta referenciação deve ser encarada como de maior importância, face ao risco associado e ao pior prognóstico do doente, quando a situação não está esclarecida e tratada.

Nas consultas dedicadas à síncope, a história clínica do doente e da família, associados à observação médica e a um eletrocardiograma são elementos de importância maior na avaliação. Pelo menos em cerca de 40% dos casos, estes dados tornam possível ter um diagnóstico presumível das causas. O objetivo é tentar determinar a origem, para recomendar o tratamento mais eficaz.

A síncope vaso-vagal, sendo a forma mais comum de perda de consciência, é uma situação benigna e, por isso, apesar do impacto na qualidade de vida, deve ser encarada com tranquilidade, sabendo-se que, regra geral, é tratada com sucesso depois de diagnosticada.

Devemos estar alerta e não desvalorizar este tipo de acontecimentos, que são comuns, e para os quais há hoje condições de excelência para esclarecimento, orientação e tratamento bem-sucedidos. Em caso de dúvida, consulte um especialista. 

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