Os alertas do sismo nas redes sociais apanharam os 'media' tradicionais a dormir
Desde os sismos que ocorreram em Portugal nos Anos 60 do século passado, foi a primeira vez que a internet e as redes sociais ultrapassaram os média tradicionais, na função de alertar e informar os cidadãos em situações de emergência noturna.
É uma aprendizagem que temos de fazer para os planos de contingência do futuro, nomeadamente quando ainda se recomenda apenas um “rádio de pilhas e uma vela” para sermos informados do que se está a passar e como devemos atuar.
Quando há 55 anos começou a internet, com a primeira conexão ARPANET, já se acreditava que a arquitetura distribuída do tipo “best-effort”, semelhante aos radioamadores da “banda do cidadão”, poderia resistir a guerras e a outras catástrofes, pois, dada a elevada redundância da rede internet, os dados encontrariam sempre um caminho para chegar até nós, mesmo que alguns polos da rede estivessem obstruídos.
A CNN Portugal foi a única televisão que estava em direto e que se “assustou” com o sismo às 5.11 da manhã. Com efeito, foi o único órgão de comunicação social tradicional em que o ser humano estava ao comando e que não estava em modo autónomo a dar-nos música, vendas, documentários ou programas em diferido.
A reação das restantes televisões só surgiu a partir do Alerta da CMTV às 5.45 e dos noticiários das 6.00 horas nos restantes canais, pois não interromperam as emissões quando todo o país já estava em alerta e os mais jovens já estavam a consultar os telemóveis, a navegar e a interagir nas redes sociais.
Tradicionalmente bastaria um rádio de pilhas para aceder aos alertas de catástrofes. Com efeito, os sinais de rádio não estavam, no passado, dependentes das plataformas digitais e os seus postos emissores sempre tiveram redundância e autonomia energética.
Por isso, foi sempre crucial que as rádios estivessem sempre prontas para entrar em ação com pessoas no comando, mesmo em horários menos convencionais, o que atualmente raramente acontece com a falta de jornalistas nas emissoras. Não foi por acaso que a Antena 1, enquanto serviço público, foi a primeira a “acordar”, quando as outras rádios estavam todas a dormir, conduzidas por computadores a “dar-nos música”.
Com a falta de recursos humanos, as rádios, as televisões e os jornais não escaparam à robotização, porque não têm jornalistas suficientes para cobrir as 24 horas de serviço. Ao contrário do que acontece nas redes sociais, que têm uma multidão de voluntários a propagar “notícias” e perceções em tempo real.
Em 2022 as televisões foram obrigadas pela União Europeia a funcionar apenas em plataformas digitais e, apesar da redundância da rede dos operadores, o encaminhamento do sinal está dependente de fontes de energia no último troço que chega às nossas casas através da rede fixa. Daí a importância dos telemóveis, pois mesmo o sinal TDT passou a ser transmitido através de descodificadores digitais.
A internet e as redes sociais oferecem uma importante rede de alerta para a disseminação da informação em situações onde os meios tradicionais falham. Por isso, podemos afirmar que atualmente os novos “rádios a pilhas” são os telemóveis, pois as antenas do serviço móvel têm baterias para prestar o serviço durante as 24 horas em todos os dias do ano e não dependem da rede fixa para chegar aos nossos dedos.
Enquanto as pilhas dos velhos rádios podem estar gastas, hoje em dia temos quase sempre os telemóveis carregados à noite, os quais podem continuar a receber mensagens SMS, partilhar conversas nas redes sociais e, no caso do sistema Android, podem mesmo receber alertas de emergência.
Uma estratégia eficaz de comunicação em ambiente de catástrofes deve garantir que, tanto os meios tradicionais, quanto os digitais, estejam prontos para atuar em conjunto, proporcionando uma cobertura abrangente e confiável para toda a população, com informação profissional e baseada em fontes seguras e credíveis, que não dispensem jornalistas humanos e não-robotizados.