Oposição em Lisboa: um inesperado PS
Uma das características de praticamente todas as oposições é a expectativa (ou, pelo menos, o desejo) de virem a ser poder. Há oposições que tentam chegar ao poder, mostrando estarem preparadas para governar, e há oposições que tentam chegar ao poder mostrando apenas uma capacidade para guerrear.
Tradicionalmente, em Lisboa, a esquerda radical tenta chegar ao poder pelo espírito de bloqueio. Levantam a voz, criticam, destratam, hostilizam, censuram. Em cima de tudo isto, ainda tentam sabotar. Não é surpresa para ninguém, de resto, a instrumentalização que o PCP faz de uma parte expressiva dos sindicatos.
Neste final de ano, assistimos a mais um episódio. O Partido Comunista tentou atacar Carlos Moedas e a coligação Novos Tempos, manipulando os trabalhadores da higiene urbana, com a greve na recolha de lixo. Com isso conseguiu sobretudo prejudicar os lisboetas, mas tudo lhes vale, desde que consigam notícias e incómodo popular. Esta é a oposição pelo boicote. Típica da frente esquerda.
A oposição dos socialistas costumava ser diferente. Combativa, sim, mas com sentido de Estado e de cidade. Ou seja, mostrando ideias diferentes, a crítica era também dialética (nem sempre justa, mas natural em política), o discurso era moderado e as propostas eram abrangentes.
Esse PS desapareceu. Hoje temos um PS tão radical como o PCP ou o BE.
Nos últimos anos, o Partido Socialista tem dado sinais preocupantes de um progressivo afastamento da moderação que tradicionalmente definiu o seu lugar no espectro político português. Este movimento, cada vez mais visível, aproxima-o perigosamente das posições de quem se segue à sua, comprometendo o seu legado de força equilibrada. O PS, outrora baluarte de entendimentos e de pragmatismo (Soares, Guterres e, em certa medida, Sócrates), parece ceder às tentações de um discurso polarizador (Costa e Pedro Nuno) que fragiliza o centro político e mina a confiança de uma sociedade já marcada por profundas divisões.
Em vez de promover o diálogo, o Partido Socialista aposta hoje numa retórica confrontacional, usando a mesma linguagem e, por vezes, os mesmos métodos usados pelos radicais.
Este radicalismo crescente é também evidente na forma como o PS aborda o combate político. O tom de alguns dos seus dirigentes, mais próximo da indignação moral que da argumentação racional, transforma adversários em inimigos e desvaloriza a necessidade de compromissos. Para este PS, quanto pior estiver a cidade de Lisboa, melhor. Gostariam que os transportes públicos não fossem gratuitos para os mais velhos e os mais jovens; que os mais idosos não tivessem acesso a um médico através do Plano de Saúde Lisboa 65+; que não tivessem sido entregues mais de 2300 chaves a famílias lisboetas, mas sim que as políticas de habitação continuassem ao ritmo dos últimos 14 anos de socialismo, com 17 casas públicas construídas por ano.
Como não têm o que querem, partem para a política dos “casos e casinhos”, questionando a legalidade de membros do executivo ou propondo golpes de secretaria. Quando nem isso conseguem levar por diante, ficam-se pelo desespero ideológico, retratada na forma como o PS tratou as nossas forças de segurança. Jamais o PS tradicional diabolizaria a polícia, como Pedro Nuno fez no caso Martim Moniz.
A demonização da direita democrática e a recusa de colaborar com forças moderadas, procurando soluções centrais para problemas estruturais, são sintomas claros deste desvio. O PS tradicional nunca se afastaria de trabalhar com o executivo de Moedas em soluções para a habitação, nunca rejeitaria falar em alojamento local, nunca ridicularizaria a fábrica de unicórnios. Não o faria quando o próprio Presidente de Câmara se coloca sempre disponível para dialogar.
Há muita coisa a mudar na política em Portugal, mas não seria de esperar que uma delas fosse a perda de sentido “de cidade” do PS. Tentar prejudicar Carlos Moedas e os Novos Tempos, não se importando de com isso prejudicar os lisboetas, é uma preocupante inovação da política em Portugal.
*Presidente da Juventude Popular e Deputado na Assembleia Municipal de Lisboa pelo CDS-PP