Em crónica anterior já mencionei a importância assumida por Almeida Santos no processo de descolonização, visto que tinha sido nomeado ministro da Coordenação Interterritorial, em Maio de 1974.No nosso primeiro encontro, em 1989, quando o conheci, em Bissau, orientei o tema principal de conversa para o reconhecimento da Independência da Guiné-Bissau porque estávamos a falar sem qualquer assunto previamente agendado.Cedo percebi que Almeida Santos gostava de relatar a evolução das reuniões havidas com os líderes do PAIGC, ao longo de três rondas negociais. A perspetiva era encontrar uma solução consensual para o reconhecimento de jure do novo Estado soberano. Recordava os pormenores das sucessivas conversações até à assinatura do Protocolo do Acordo, em Argel, a 26 de Agosto. Tinham passado, apenas, pouco mais de três meses sobre a tomada de posse do I Governo Provisório.Mais tarde, em 2006, Almeida Santos viria a escrever e publicar em dois volumes os seus testemunhos a que chamou Quase Memórias, editados pela Casa das Letras/Editorial Notícias.Mas, voltando aos nossos diálogos em Bissau.A certa altura da conversa, Almeida Santos pergunta-me:- Então, que faz por aqui?- Olhe, como sou médico especialista em Saúde Pública, depois de ter estado como consultor em Xangai, no Verão de 1980, resolvi concorrer a um lugar permanente da OMS. Aqui estou eu a coordenar os programas de cooperação internacional financiados pela Região Africana de Brazzaville e, também, por Genebra, como acontece com a SIDA. A faina é difícil, mas gosto.- Tem apoio de Portugal?- Sim. Muito. A cooperação bilateral é importante e isso deve-se, em grande parte, ao seu trabalho como ministro. Tenho gosto em dizer-lho. A forma como Portugal reconheceu a soberania da Guiné-Bissau foi sábia. Aquilo que me contou já eu sabia pelos combatentes do PAIGC que agora governam este país.- E os guineenses que dizem da sua condição de ser português?- Acolhem-me com afeição. Nunca senti qualquer discriminação. Bem pelo contrário, tenho aqui amigos para a vida. Convivemos em almoços e jantares ao fim de semana. Viajamos para acamparmos nas praias de Varela ou nos Bijagós. Muitos deles estiveram a combater no mato e agora são ministros...-Trabalham bem em conjunto?-Trabalhar com guineenses é entusiasmante. A população das tabancas participa!Ao fim de duas horas, visivelmente regozijado com as minhas respostas, marcámos novo encontro. Acertámos a hora. Prometi que contar-lhe-ia como foi identificado o início da pandemia da SIDA.- Ó Francisco, combinado. Falaremos amanhã à beira da piscina para sentirmos este magnífico Sol de África.(continua) Ex-diretor-geral da Saúdefranciscogeorge@icloud.com