O Covid 19 é a nova lepra?

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"Já não estou doente, mas os meus colegas não se querem sentar ao meu lado... nem fazer trabalhos de grupo comigo, dizem que sou um vírus andante" dizia-me uma criança de 11 anos em consulta.

A lepra foi, durante muito tempo, descrita como uma praga dos deuses ou uma punição pelos pecados. Esta doença conduziu, assim, a sentimentos de horror e a uma estigmatização social dos doentes que, desfigurados, se viam ainda excluídos e segregados na sua comunidade.

Estaremos a assistir a algo parecido com os doentes Covid? Estarão os doentes do novo coronavírus a ser vítimas de uma outra doença, chamada estigma social, não apenas durante o período de tempo em que estão infectados, mas também depois, já recuperados? E quando estas vítimas são crianças, postas de parte pelos colegas? Qual o impacto que poderá ter esta situação na sua saúde psicológica?

Sabemos que a pandemia que atravessamos é grave e que envolve perigos reais exigindo, por isso, as medidas de segurança que todos nós conhecemos. No entanto, tão importante como cuidar da saúde física, é cuidar da saúde psicológica.

O medo, a incerteza e a desconfiança podem conduzir a comportamentos de descriminação para com pessoas que se encontrem infectadas ou tenham estado infectadas e, ainda, para com pessoas que estejam ou tenham estado em isolamento ou quarentena. Estas pessoas são, muitas vezes, olhadas à luz de um conjunto de estereótipos e crenças erradas que diminuem a coesão social e favorecem a estigmatização. E a estigmatização acarreta consigo vários outros riscos.

Por um lado, temos as pessoas que tendem a esconder os sintomas e a doença, adiando o pedido de ajuda e mantendo os contactos sociais habituais como forma de encobrir a situação. Por outro lado, temos as pessoas recuperadas que continuam a ser «olhadas de lado» e discriminadas no seu dia-a-dia, potenciando quadros depressivos e ansiosos.

O vizinho que é impedido de entrar no elevador... a criança que é gozada na escola... o cliente olhado de lado no supermercado... todos eles precisam da nossa empatia e altruísmo. Neste momento, mais do que nunca, precisamos estar unidos e adoptar comportamentos pró-sociais, de inclusão e aceitação.

Não esquecendo que amanhã podemos ser nós ou os nossos filhos.

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