Os miúdos ainda podem ser felizes na escola em tempos de covid?

Publicado a
Atualizado a

Chegou a hora. As cachopas voltam à escola. Para uma delas (sou pai de três), não é novidade: fez parte do grupo de cobaias (11.º e 12º) que já tinha voltado às salas de aulas em maio passado para concluir o ano letivo - e tudo correu bem. Para a mais velha, na faculdade, o regresso ainda vai demorar mais algum tempo, agendado só para outubro. Ficou assim para a mais nova, ainda para mais em mudança de ciclo (para o 5.º ano), a maior dose de ansiedade por estes dias.

Se um novo ciclo, uma nova escola, novos professores e novos colegas são já, em condições normais, fatores de ansiedade suficientes para mexer com crianças e pais, este ano esses passaram a ser problemas menores perante o monstro do covid.

O verão foi passado a tentar antecipar cuidados, educar comportamentos, estabelecer rotinas de higiene para que tudo pudesse acontecer da forma mais natural possível assim que chegasse a hora, esta hora, de enfrentar o regresso à escola. Mas sabemos todos, pais e miúdos, que nada disto é normal. O "novo normal" que o vírus nos impinge é uma perfeita aberração.

Enquanto pai, a maior preocupação é encontrar um ponto de equilíbrio. Se, por um lado, receio que o vírus apanhe alguma das minhas filhas (por elas, por nós, pelos avós, por tudo e mais alguma coisa), por outro não quero que elas deixem de poder crescer felizes e livres. Saudáveis claro, com os cuidados possíveis e recomendados, mas sem a pressão constante de não poderem dar um espirro em falso ou não colocar um pé fora do metro quadrado que lhes esteja fisicamente atribuído no recreio.

No final da reunião de apresentação na nova escola da mais nova, confesso, senti-me claustrofóbico. Depois de hora e meia a ouvir a diretora de turma expor todos os cuidados e protocolos que a escola, incansavelmente, colocou em prática (e penso sinceramente que é justo aplaudir o esforço de todos quantos estiveram envolvidos na preparação do novo ano escolar nestas circunstâncias, em qualquer escola que seja), entre horários de entrada e saída desfasados, utilização limitada do refeitório, proibição de idas à casa de banho nos intervalos, imposição de um espaço físico delimitado no recreio e até a forma correta de tirar a máscara caso tenha de a substituir, a dúvida que me assaltou foi essa: e espaço para aprenderem felizes, ainda há?

O sorriso da cachopa mais nova, ao fim do primeiro dia, é um sinal de esperança.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt