António Horta Osório esteve há poucos dias em Lisboa para vários eventos, um dos quais assinalou os 40 anos do FAE - Fórum de Administradores e Gestores de Empresas. É um banqueiro com larga experiência, líder do Lloyds Bank em Inglaterra. Consegue analisar a realidade portuguesa com a emoção de um nacional mas também com a frieza de um gestor internacional que vive fora do seu país. Por isso, apesar do crescimento da economia portuguesa registado nos últimos anos, alerta para vários indicadores que ainda são preocupantes e que precisam de atuação política e empresarial imediata..Comecemos pela banca. Aparentemente muitos problemas já foram resolvidos - BPP, o BPN e o BES -, mas há ainda muito por tratar. É o caso dos NPL (non-performing loans). Na opinião de António Horta Osório, "ter 12% de créditos malparados continua a ser um valor muito alto face à média europeia. Não se pode ser complacente, este valor tem de ser reduzido", afirmou..Há outras preocupações a ter em conta. Por exemplo, o endividamento total do país aumentou desde a crise. E porquê? "Enquanto as empresas portuguesas tinham uma dívida de 120% do PIB antes da crise e hoje estão nos 100%, as famílias também baixaram de 87% para 67%, já a dívida pública subiu de 68% para 125% do PIB. Hoje o endividamento do país está perto de 300% do PIB." E compara com outros mercados nossos vizinhos: "245% do PIB é a dívida total de Itália e 252% do PIB é a de Espanha, ambas abaixo da nossa dívida." Mais, se olharmos para "a Alemanha, a dívida total é menor do que no período pré-crise, tendo baixado de 181% para 169%". O gestor alerta para a dimensão gigantesca do nosso valor da dívida e também para a muito provável subida das taxas de juro que, "se subirem à volta de 2%, pode ter um impacto de 6% em termos de PIB, com custos em encargos financeiros"..A estas preocupações é importante juntar o tema da baixa natalidade e consequente envelhecimento da população. "Daqui a 40 anos a nossa população será a mesma de 1950. Daqui a 40 anos em vez de 1,5 trabalhadores ativos por cada pensionista teremos apenas um trabalhador ativo por pensionista, o que implica um esforço brutal." Na opinião do banqueiro este "é um problema muito grande do país e é uma questão multipartidária e multigovernamental". Eu não poderia estar mais de acordo!.Para os portugueses terem mais filhos é preciso dar-lhes as condições que não têm tido. Mas o problema, no imediato, necessita ainda de outras soluções. "É preciso uma política de imigração inteligente e atrair quadros portugueses que foram para o estrangeiro", aponta Horta Osório..Quanto mais riqueza criar o país, mais esse fator poderá contribuir para a natalidade. E tudo o que se fizer hoje já vai com um enorme atraso. Por exemplo, "cada irlandês criou o dobro da riqueza de um português nos últimos 20 anos", recorda. E considera que "Portugal está numa boa trajetória, mas ainda temos muito para fazer. É preciso olhar para quem faz bem, aprender as receitas e fazer melhor"..Para resolver esta questão parece haver uma única fórmula: aumentar a produtividade. Sem a melhoria deste indicador não haverá mais riqueza e dificilmente teremos uma melhor redistribuição de rendimentos e uma eventual descida de impostos, que se sinta nos bolsos de cada contribuinte. É preciso que cada um, trabalhadores e chefias, faça a sua parte. Produzir mais e produzir cada vez melhor. Sem complacência..Rosália Amorim é diretora do Dinheiro Vivo