Há futuro para um Android vestido de Nokia?
Era daqueles rumores dados como "praticamente certos" nos meios da especialidade e foi formalmente confirmado nesta semana: a Nokia vai voltar a fazer smartphones. Perdão! Vêm aí novos smartphones com a marca Nokia. Assim é que está bem.
Isto porque o fabricante finlandês, que já foi o maior do mundo em telemóveis, dá o nome ao produto, mas o resto será de outros.
A começar pelo sistema operativo. Os novos Nokia serão aparelhos Android (da última versão, a Nougat), algo que a marca sempre evitou, com o argumento de que não queria ser apenas "mais um" fabricante do sistema da Google (que percentualmente domina o mercado dos telemóveis ditos "inteligentes").
Foi este o argumento que levou a tecnológica escandinava a insistir no seu próprio sistema, o defunto Symbian, para depois - sob a direção do presidente Stephen Elop - acabar por optar pelo Windows Phone.
(Esta parceria com a Microsoft levaria mesmo, em 2013, à compra da divisão de smartphones da finlandesa pela gigante americana, num acordo que hoje, na gíria, é conhecido como Elopgate de tão bem que correu: em julho de 2015, a Microsoft assumiu quase oito mil milhões de euros de prejuízo por este negócio).
Os "novos Nokia", a serem comercializados em 2017 - provavelmente na primavera -, serão fabricados por uma empresa chinesa chamada FIH Mobile, uma subsidiária da Foxconn (a que faz os iPhones), por encomenda da HMD Global Oy, firma de um antigo funcionário da Nokia. Arto Nummela, que chegou a ser o responsável pelas vendas de aparelhos móveis da finlandesa para a Ásia, o Médio Oriente e África, conseguiu os direitos da marca e da imagem para os próximos dez anos e prometeu já, em entrevista à Bloomberg, que as suas criações serão "extremamente fiéis à marca Nokia".
Seja lá o que for que isto queira dizer.
É que, ainda que a HMD tenha na sua administração um representante da Nokia Technologies - empresa que hoje se dedica essencialmente à criação, gestão e manutenção de redes de telecomunicações -, muitas das patentes que fizeram dos antigos Nokia aparelhos de referência (ainda que flops comerciais) são hoje da Microsoft.
O caso mais flagrante é o da tecnologia PureView, que ainda hoje faz que as câmaras dos smartphones Lumia sejam das melhores do mercado (o Nokia Lumia 1020, de 2013, continua imbatível com a sua câmara de 41 megapíxeis; e nos testes ao Microsoft Lumia 950 - lançado no fim de 2015 - este ainda se bate valentemente perante os novíssimos iPhone7 e Google Pixel).
Como vai então esta "nova Nokia" diferenciar-se dos outros fabricantes? Só o futuro o dirá. Mas é preciso lembrar que o mercado Android é extremamente competitivo. Com dezenas de fabricantes a lutarem por público, as margens de lucro são reduzidíssimas e até a marca que vende mais aparelhos, a Samsung, abalada pelo caso dos Note 7 que "explodiam", precisa de ter um hit de vendas no próximo ano para voltar aos grandes resultados.
A agravar o panorama, há analistas que defendem estarmos prestes a atingir o pico de crescimento nos smartphones.
Talvez fosse melhor a Nokia seguir o velho adágio: "Nunca voltes ao lugar onde foste feliz." A não ser que a marca escandinava tenha um muito grande e surpreendente coelho a tirar da sua nova cartola...