Android preguiçoso e androides com direitos

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Estará a Google a deixar o Android a dormir à proverbial sombra da bananeira? Parece que sim. E isso é uma má notícia para quem gosta de tecnologia.

Oito em cada dez smartphones que existem são Androids, segundo as contas da consultora Gartner relativas ao último trimestre de 2016. Dito de outra forma, qualquer inovação que surja para estes dispositivos (novas apps ou alterações no sistema) têm o potencial de afetar, literalmente, meio mundo.

Mas no reino do Android este domínio não está a ser aproveitado em pleno. As atualizações de sistema são um caos em que os utilizadores nunca sabem quando (ou se) terão acesso à última versão do sistema operativo (SO) - depende, além das características base do aparelho, do seu fabricante e (na maioria dos casos) até da operadora móvel. Há assim milhões de telefones que tecnicamente poderiam usar versões mais atuais do SO mas estão "presos" a sistemas antiquados, com evidentes consequências, designadamente, ao nível da segurança.

Segurança que é o segundo maior problema do "ecossistema" Android. A loja Google Play é desorganizada e pouco fiável (já foram encontradas na loja oficial apps que instalam software malicioso); o próprio SO é relativamente inseguro, uma vez que, pela sua natureza, "entrega" controlo total do aparelho às apps (ao contrário do que acontece com o iOS - e, até, com o Windows, desde o velho Phone 7 até ao atual 10 Mobile -, em que as aplicações correm em sandbox, um ambiente sem acesso direto a recursos vitais).

Além de tudo isto - que francamente não é novidade nenhuma - junta-se a sensação atual de que pouco ou nada muda no próprio sistema. Aparecem aparelhos cada vez mais potentes, com resoluções até 4k (um disparate para um ecrã que cabe no bolso) e muitos gigas de RAM mas, contas feitas, parece tudo um bocado mais do mesmo. Não se vislumbram smartphones com novos serviços, novas apps ou, simplesmente, ideias originais.

Tanto assim é que no Mobile World Congress (MWC), que começa amanhã, em Barcelona, as maiores novidades previstas prendem-se com óculos de realidade virtual, relógios "inteligentes" ou até tablets (a Samsung promete uma surpresa a este nível).

As próprias empresas de hardware estão a reagir à estagnação do sistema. O exemplo mais evidente é o da Samsung (a maior fabricante do mundo de smartphones Android), que desenvolveu sozinha - sem ligação à Google - um software do estilo do Continuum do Windows Mobile, que transforma o telefone em ambiente de trabalho de PC. Este deverá equipar o seu próximo topo de gama, o Galaxy S8 - que não irá dar um ar da sua graça no MWC. E, em alguns dos seus relógios "inteligentes", a marca coreana tem optado pelo Tizen, um SO que, tal como o Android, é baseado em Linux mas que não tem ligações à Google.

AI e personalidade jurídica

Têm os sistemas de inteligência artificial (AI na sigla inglesa) algum nível de personalidade jurídica? Nesta semana o tema voltou à ribalta quando a Amazon defendeu, na justiça, que as conversas captadas pela assistente digital Alexa (num caso de homicídio) estavam protegidas pela primeira emenda da Constituição dos EUA - leia a notícia aqui.

Ainda que não seja com certeza desta que a sociedade o vai admitir - afinal, vivemos num mundo em que a maioria dos países continua a recusar dar proteção legal aos animais, quanto mais aos seres artificiais -, a questão ganha pertinência a cada dia que passa. E em breve será inevitável encontrar uma resposta satisfatória.

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