António Costa foi à missa na quinta-feira
Do encontro habitual das quintas-feiras, esta semana saiu um Presidente que não perde uma oportunidade para estar mais perto do céu e um primeiro--ministro que quer estar bem com Deus e com o Diabo. Conhecemos todos a religiosidade do Presidente da República e sabemos da capacidade de António Costa para trabalhar consensos que evitem a entrada em guerras que pode não ganhar. Sabemos como Marcelo Rebelo de Sousa deixou claro que em matéria de educação e contratos de associação alinha com a direita, conhecemos a posição da Igreja sobre esta polémica e percebemos a importância do negócio. Um cardeal que diz que a solidariedade tem de ser subsidiada e um Presidente que pede "previsibilidade e certeza para as famílias e os alunos" aceitam que os contratos de associação sigam o seu caminho em troca do "leite com mel" que haverá de jorrar dos cofres públicos na direcção dos colégios privados para fazer da pré--primária um desígnio nacional.
Daqui a alguns anos estaremos, outra vez, a discutir a previsibilidade como um direito dos privados, sem nunca ter investido o que é preciso na escola pública, começando exactamente pela pré-primária aos 4 e 5 anos. E, sem ter consolidado um bom ensino público na escolaridade obrigatória, andaremos na discussão de sempre, sobre a liberdade de escolha que, com a política feita assim, será sempre uma enorme falácia. O caminho é investir mais nas escolas do Estado, preferencialmente naquelas que estão inseridas em zonas desfavorecidas, onde vivem os filhos dos mais pobres, que nunca serão aceites em escolas privadas, mesmo que lá cheguem com um cheque-ensino de 300 ou 400 euros.
Se querem defender a liberdade de escolha financiada pelo Estado, façam-no sem hipocrisia. Assumam que não se importam que a pobreza se perpetue em determinadas famílias. Assumam que para esses a vida será uma lotaria, muito mais do que já é hoje. Quem acha que pobre pode ser pobre toda a vida, também acha que a escola pública não interessa para nada. Isso tem pouco de católico, mas também é liberdade. Eu já fiz a minha escolha e não aceito que o Estado subsidie a minha opção. Quero que o Estado invista cada vez mais na escola pública para ela ser boa e servir os filhos dos que têm poucos recursos com igual oportunidade. Não aceito que os filhos dos mais pobres, já com menos apoios do que as minhas filhas, sejam sujeitos a uma condenação perpétua. Devem ser resquícios da minha educação cristã, sempre à espera que Jesus volte a expulsar os vendilhões do Templo.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico