Um frankenstein espanhol não é uma geringonça portuguesa
Pedro Sánchez não quer só derrubar Mariano Rajoy, quer também ser chefe de governo a todo o custo. E é neste a todo o custo que reside o problema espanhol, já que ninguém rejeita que o PP está manchado pelos escândalos de corrupção e que é legítimo o líder do PSOE ambicionar o poder. Fala-se de um governo frankenstein, pois se a moção de censura apresentada pelos socialistas resultar, a nova maioria nasce do apoio tácito não só do Podemos como de uma miscelânea de partidos nacionalistas catalães e bascos, uns à direita, outros mais à esquerda até do que o PSOE.
Desde que chegou pela primeira vez à liderança do PSOE em 2014, Sánchez tem procurado formas de afastar a direita, mas tanto nas eleições de dezembro de 2015 como nas de junho de 2016 obteve os piores resultados da história do partido. E isto apesar do descrédito do PP, desgastado pela austeridade e pelos escândalos. Chegou a ser afastado pelos barões do partido, mas os militantes deram-lhe nova oportunidade e chegámos assim a este momento do tudo ou nada.
A certa altura, a solução governativa portuguesa chegou a servir-lhe de inspiração: falou-se de uma geringonça à espanhola, com PSOE, Podemos e outras forças esquerdistas, talvez até os centristas do Ciudadanos, hoje líderes nas sondagens. Mas falhou porque nem o inexperiente Sánchez é António Costa, que foi ministro e presidente da Câmara de Lisboa antes de ser primeiro-ministro, nem a Espanha é Portugal. PCP e Bloco de Esquerda até podem questionar a NATO e a UE, mas não geram por isso nenhum drama ao PS, que vai contando com o apoio de ambos. Mas o PSOE juntar-se agora nesta moção aos partidos bascos e sobretudo aos catalães que defendem a independência é um risco tremendo para Espanha e para os próprios socialistas, que fazem má figura nas sondagens. Um frankenstein é bem diferente de uma geringonça.