"Não estou a fazer nada"

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As oito letras da palavra "governar" correspondem, segundo o dicionário, a "exercer o governo de, administrar, gerir, dominar ou imperar", entre outras possibilidades. É verdade que estes significados não são desconhecidos da maioria dos portugueses, no entanto, as recentes eleições explicaram melhor que, ao verem surgir os resultados eleitorais, "exercer o governo" não era a primeira preocupação dos eleitores (e comentadores), preferindo antes conjugar os dois últimos significados: dominar ou imperar. Era só disso que se falava face aos números que o governo precisava para ser o dono do país durante quatro anos enquanto se faziam apostas sobre os partidos que teriam de se deixar "dominar" para que houvesse um futuro a quatro anos.

Há dias li um texto de Mia Couto em que ele contava uma história: "Ao chegar ao meu local de trabalho em Maputo, deparei com dois jovens sentados no muro e perguntei ao primeiro o que ele fazia ali. A resposta: "Não estou a fazer nada." Fiz a mesma pergunta ao outro jovem que me respondeu com a mesma prontidão: "Eu? Estou aqui a ajudar o meu amigo."


O que estes dois jovens disseram ao escritor moçambicano é também uma boa definição de governar se olharmos antes para os significados "administrar, gerir", pois mostram que ninguém é capaz de fazer tudo sozinho e que com ajuda é melhor e mais fácil.
Exemplos na história não faltam sobre as diferentes formas de governar, designadamente o de Gandhi com a sua atitude de resistência não violenta para atingir os objetivos. Por cá, temos muito a prática de ser resistentes, mas governar não é connosco. Está sempre tudo mal, os suspiros abundam e as indecisões são a norma. Talvez por estas razões "dominar ou imperar" seja o melhor significado de governar na língua falada por estes portugueses.

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