Grande mesmo era Raul Cortez a fazer de Salieri

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Protagonizar os grandes compositores no cinema é uma tarefa tão difícil como a de os próprios comporem grandes sinfonias, nada que tenha proibido vários cineastas de o tentarem. Talvez Mozart seja o mais fácil de replicar, usando os seus traços de genialidade desde criança como fez Milos Forman no premiadíssimo Amadeus. Após 13 nomeações, coisa não tão vulgar assim, levou oito Óscares para várias categorias, e deixou para sempre a imagem na mente dos espectadores do mundo (sur)real de Mozart, fixando a sua vida por várias gerações. No entanto, quando tento recordar o nome do ator que fazia de Mozart, nem uma vaga memória. Após uma busca descobre-se que foi Tom Hulce...

Outra tentativa de refazer um pedaço de vida no cinema foi com o filme Corrigindo Beethoven, em que o tempo de ação é de apenas quatro dias, os que antecedem a apresentação oficial em Viena da 9.ª Sinfonia. A realizadora Agnieszka Holland recria esse período de tempo e refaz o seu Beethoven bem à medida do ator que o interpreta. Desse não se esquece, pois Ed Harris está perfeito para o papel e é dono de uma irascibilidade que fascina desde o início.

Coincidentemente, tanto em Amadeus como em Corrigindo Beethoven, ambos os atores/compositores têm um rival à medida nas suas interpretações, que os obriga a ir mais longe. No primeiro caso, é F. Murray Abraham como Salieri que desafia Tom Hulce, um compositor que se esforça ao limite para apresentar obras enquanto a criança-prodígio inventa peças excecionais sem esforço de maior. No segundo caso, Ed Harris tem a presença brilhante da atriz Diane Kruger, a copista contratada para lhe corrigir a partitura da 9.ª Sinfonia antes da estreia.

Amadeus é de longe mais impressivo do que Corrigindo Beet­hoven, mas ninguém esquece a loucura de Ed Harris e a luta de Diane Kruger para o domar. Tal como ninguém se esquece de F. Murray Abraham porque o rival Salieri será sempre mais interessante do que o génio Mozart. Nada que Raul Cortez não tenha feito ao interpretá-lo na peça Amadeus, no Teatro Bloch no Rio de Janeiro, em 1982, absorvendo os padrões da escrita de Peter Shaffer de uma forma que quem o viu nunca mais precisou de ir ao teatro para saber o que é representar. Grande mesmo era esse ator que foi engolido pelas telenovelas.

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