A colonização do homem pela inteligência artificial segundo Arlindo Oliveira

O subtítulo da investigação Mentes Digitais de Arlindo Oliveira é "A Ciência Redefinindo a Humanidade". É suficientemente claro para se perceber que ao entrar neste livro o leitor vai confrontar-se com o que quer e não quer. Principalmente esta segunda parte, até porque o autor faz questão de informar na sua biografia que gosta de "especular sobre o futuro da humanidade", bem como dar um lugar importante às máquinas, como se pode ler logo no primeiro capítulo: "Os computadores, as células e os cérebros são os resultados de complexos físicos e químicos tão antigos como o universo, os mais recentes produtos da evolução, os vencedores de uma corrida que começou há muitas eras." Em seguida, está um título a negro: "Tudo está interligado", seguido desta sentença: "Muitos de nós temem até, agora, que as mudanças possam ser demasiado rápidas e profundas, para que possam ser assimiladas pela maioria da população"...

Aqui está o busílis de toda a questão que envolve este ensaio que se preocupa com o caminho tecnológico feito até ao presente e que indica um dos muitos possíveis para um futuro demasiado próximo. Basta ler o prefácio para se compreender que a matéria não é consensual, pois, como diz Jonas Almeida, foi-se surpreendendo com os "sinais" do autor que faziam "descarrilar" certas conversas. Ou seja, acrescenta, este livro resulta de "perguntas que desde a sua juventude continuavam por resolver".

Maioritariamente, Mentes Digitais é um volume de divulgação científica sobre a inteligência artificial. No prólogo, Arlindo Oliveira explica como no final da década de 1970 adquiriu um "primitivo" computador pessoal, o famoso Sinclair ZX Spectrum, e a partir de então ficou "viciado" em computadores. Um salto no tempo e esteve no CERN, depois em Berkeley, entre outros lugares, tornando-se assim possível escrever sobre um dos seus temas de eleição, de modo a que quase qualquer pessoa o possa entender.

O livro foi originalmente publicado pela MIT Press e esta tradução mostra como a língua portuguesa ainda está sem sinónimos para todos os conceitos de que trata. O mesmo, percebe-se, já não se passa com os leitores a quem se destina, pois o novo mundo não está assim tão distante de Portugal, nem a promoção da inteligência artificial como o próximo grande feito civilizacional está distante de ser arquitetado por cá.

Arlindo Oliveira monta este livro de modo a explicar como se chega ao atual estado da tecnologia e interpreta algum do futuro através de um capítulo intitulado "Especulações". Fora este, a sua preocupação é explicar a evolução e fá-lo bem: desde as "Tecnologias pré-históricas" até à "Terceira revolução industrial", sem esquecer "Uma geração nascida na era do computador".

Entre os vários capítulos há um fundamental para se entrar no verdadeiro objetivo deste volume, uma espécie de introdução ao futuro, quando se explica "Como funciona o cérebro". Tudo passa por aqui, e assim chegamos ao âmago de Mentes Digitais, uma análise sobre tudo o que vai estar em questão até a máquina inteligente colonizar o homem.

Diga-se que a capa de Mentes Digitais é um excelente teste à desconfiança sobre os próximos tempos da humanidade. Olha-se e vemos uma quinzena de rostos humanos com circuitos eletrónicos no interior da cabeça. Um olhar mais atento, dá a perceber que afinal já são robôs...

Mentes Digitais

Arlindo Oliveira

Editora IST Press

285 páginas

PVP: 22 euros

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