Não se excitem

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Frank Schwalba-Hoth foi brevemente deputado ao Parlamento Europeu, pelos Verdes alemães, em meados dos anos 80. Terminado o seu meio mandato (à época eles faziam uma rotação a cada dois anos e meio), nunca mais se foi embora de Bruxelas. É consultor, organizador de eventos, especialista em relações com a Ásia central e, sobretudo, provavelmente o maior networker da cidade. Cabelos brancos, barba desarrumada, gestos exagerados e uma bicicleta que consegue fazer entrar nos lugares mais improváveis, apesar de não ter telemóvel conhece quase toda a gente, e quase toda a gente sabe quem ele é. Se há um europeu de Bruxelas, é ele.

A semana passada, Frank enviou um mail à sua enorme lista de contactos a dizer porque razão, ao contrário do que decidiram os Verdes europeus, se ainda fosse deputado votaria a favor da eleição de Ursula Von Der Leyen para presidente da Comissão Europeia. Segundo ele, há três razões para um ecologista de esquerda o fazer: porque a candidata nomeada tem abertura às questões ambientais, sem ser uma ecologista; porque tem curriculum e experiência de Governo; e porque, pragmaticamente, se não for ela os chefes de Estado e de Governo vão ter de reunir de novo e acabrão por escolher outro, provavelmente um homem, certamente do PPE, eventualmente menos sensível a estes temas que lhe interessam.

Na sequência da crise das dívidas soberanas e de uma divisão entre esquerda e direita e também entre norte e sul, a Europa, que tem sido um processo essencialmente consensual entre democrata-cristãos, à direita, e socialistas, à esquerda, tornou-se objecto de disputa profunda entre uns e outros e, sobretudo, os seus extremos.

O que Frank sugere, deixando de lado a recomendação específica com que se pode concordar ou não, é pragmatismo e compromisso. Exactamente o que costuma acontecer o resto do ano em Bruxelas, quando não estamos em pré ou pós eleições, e que explica que o apoio à participação na União Europeia seja genericamente maioritário pela Europa fora, mesmo que cada um e cada Estado tenha as suas razões diferentes.

O peso dos vários partidos (no Parlamento Europeu e, através dos governos, no Conselho) deve acentuar o pendor de cada período, deve influenciar (é por isso que, mesmo que não haja um único comissário Verde, por efeito dos resultados eleitorais teremos uma agenda europeia mais ambientalista), mas não pode ser um lado contra o outro porque, no fim do dia, do mandato, ou bem que uma enorme maioria dos 500 milhões (em breve menos) está confortável com o caminho escolhido, ou veremos outros, além dos britânicos, acabarem por partir.

Propor a moderação e o compromisso é pouco entusiasmante - ninguém há-de organizar uma manifestação a fazê-lo - mas é preciso.

Um dos maiores erros de alguns decisores políticos em Bruxelas é convencerem-se de que é preciso excitar o europeísmo para haver europeus. É assim, com os ânimos exaltados, que costumam começar os confrontos e as separações.

Se, esta semana, Ursula não for eleita presidente da Comissão a Europa não acaba; mas se for, também não.

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